segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Blog parado

Caros leitores,

O tempo anda escasso e vou deixar o blog parado por um tempo.

Estou envolvido com um evento muito bacana em São Paulo: a Virada Sustentável!

Em breve, mais informações.

http://www.viradasustentavel.com/

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Biodiversidade: enfim, uma boa notícia

Depois de um certo desânimo inicial, parece que a COP-10 realizado em Nagoya, no Japão, para tratar do tema da biodiversidade, trouxe finalmente uma boa notícia. Que sirva de exemplo para a até agora desacreditada COP-16 sobre o clima que acontece em novembro no México.

Segue comunicado recém-saído do forno pelo WWF (que, aliás, fez um belíssimo trabalho de acompanhamento e divulgação de todo o evento).

"Rede WWF - Declaração final - Cop 10 Convenção sobre Diversidade Biológica

Natureza ganha vigoroso alento com o novo acordo sobre biodiversidade

Nagoia, Japão - Os governos reunidos na reunião da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) chegaram a um acordo. Quando for aplicado, esse novo acordo colocará o mundo num rumo capaz de ajudar a prevenir a extinção em massa das espécies e a acabar com o declínio da natureza valiosa do planeta.

"Os ministros trabalharam arduamente nos últimos três dias para estruturar esse acordo. Esperamos que seu espírito e determinação se ampliem para outros espaços de discussão, inclusive para as reuniões de negociações climáticas que acontecerão em breve em Cancun", comentou Jim Leape, diretor-geral da Rede WWF.

A Rede WWF acolheu bem a adoção desse novo plano de 10 anos para resgatar a biodiversidade.

Segundo Leape, "o novo acordo reafirma a necessidade fundamental de se conservar a natureza por que ela é a própria base da nossa economia e da nossa sociedade. Os governos enviaram uma mensagem vigorosa afirmando que, na política internacional, há lugar para a proteção da saúde do planeta e que os países estão prontos a unir esforços para salvar a vida na Terra".

Os delegados presentes à reunião conseguiram superar o impasse na questão que, durante 18 anos, desde a assinatura da Convenção, havia impedido que se chegasse a uma resolução. Trata-se da questão do acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios.

"O Protocolo de Nagoia é um sucesso histórico e assegura uma repartição mais eqüitativa do valor -- muitas vezes imenso -- dos recursos genéticos", declarou Leape.

Os governos chegaram a um acordo sobre uma meta para terminar com a sobrepesca e outra para proteger 10% das áreas marinhas e costeiras, inclusive em alto mar. Embora a Rede WWF reconheça o importante passo dado para aumentar em 10% a proteção atual em todo o mundo, a organização ambientalista considera que essa meta equivale ainda a apenas metade do que é recomendado pelos cientistas.

"Os governos concordaram em proteger 10% de todos os oceanos do planeta e parar com a sobrepesca - isso é uma ótima notícia para os mares do mundo."

O novo plano da biodiversidade estabelece uma meta de 17% de proteção para habitat terrestre, o que significa um modesto aumento em relação à média mundial atual, que é de aproximadamente 12%. Os governos também chegaram a um acordo sobre a meta para a reforma dos subsídios considerados prejudiciais. O novo acordo exige, ainda, que os países incorporem a garantia da biodiversidade em sua contabilidade nacional - isso é um sinal político importante e tem potencial para colocar em andamento uma abordagem diferente para a tomada de decisão econômica.

O país anfitrião do evento, o Japão, prometeu, esta semana, recursos financeiros significativos para a biodiversidade. Já os países desenvolvidos mostraram-se incapazes de se mobilizar para garantir uma injeção imediata de recursos financeiros que sejam novos e relevantes. No entanto, os governos conseguiram concordar com um plano para identificar, até 2012, os fundos necessários para executar o plano. É vital garantir dinheiro novo para enfrentar rapidamente a perda da biodiversidade mundial.

"Embora se observe um progresso significativo em várias frentes, ainda há muito trabalho a ser feito para mobilizar os recursos necessários para ajudar o mundo em desenvolvimento a alcançar suas metas".

"Ficamos decepcionados com o fato de que os países mais ricos vieram a Nagoia de bolsos vazios - sem poder ou sem querer fornecer os recursos financeiros para que o mundo em desenvolvimento consiga alcançar suas ambiciosas metas", concluiu Leape.

Os governos saem de Nagoia com um acordo que aponta o novo caminho a seguir para salvar a vida do planeta. É fundamental, agora, que eles sejam rápidos em agir e transformar suas promessas em ações. "

mais informações em: wwf.org.br

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Geração de valor diminui problema do lixo

Enxergar o valor econômico do lixo pode ser a senha para a solução de um dos maiores problemas ambientais do século: a destinação adequada para os mais de 2,1 trilhões de toneladas de lixo gerados ao ano pelo homem.


É um mercado e tanto. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no país mais de R$ 8 bilhões em materiais recicláveis foram parar em aterros sanitários e lixões em 2009.

O que explica tamanha fortuna sendo, literalmente, jogada no lixo? De acordo com especialistas, há várias respostas. "O lixo, por sua própria natureza, nunca foi prioridade nas políticas públicas", explica o técnico do Ipea, Jorge Hargrave.

Uma realidade que se reflete nos contratos de concessão do municípios para a gestão do lixo. Focados no transporte e aterro, acabam estimulando as empresas a enterrar lixo sem preocupação com coleta seletiva.

"Muitos prefeitos falam que não há recursos para a coleta seletiva, e eles deveriam ver isso como oportunidade de reduzir gastos", diz o professor Sabetai Calderoni, do Instituto Ambiente Brasil.

Somente no município de São Paulo, segundo ele, mais de R$ 1 bilhão dos R$ 1,2 bilhão gastos ao ano com gestão do lixo poderiam ser economizados com coleta seletiva e reciclagem -menos gasto com transporte e aterros. (...)
 
Leia a íntegra da coluna publicada ontem na Folha em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2610201023.htm

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

SWU: considerações

Antes de tudo, é bom ressaltar que não existe pessoa, evento ou empresa 100% sustentável. A sustentabilidade é sempre uma busca, um objetivo, uma espécie de cenourinha a orientar ações pessoais e coletivas para um mundo melhor e mais organizado.

É bom ressaltar também que estou organizando um evento de sustentabilidade, a Virada Sustentável de São Paulo (http://www.viradasustentavel.com/), e que os comentários aqui não guardam qualquer relação com isso. Pelo contrário: quanto mais eventos com esse tema, melhor para todos, desde que sejam sérios.

Pois bem, estive no SWU no último fim de semana. Um mega festival, muito bonito, bandas incríveis e uma organização até que razoável para um evento de tal porte. Só faltou, na minha opinião, alinhar com o tema da comunicação utilizada na sua divulgação:  a sustentabilidade.

A organização até que correu atrás, na última hora, de parcerias e apoios que aproximassem o evento da sustentabilidade. Chamou ONGs ambientalistas, criou um fórum de debates com personagens internacionais (eu, como colunista da Folha, nunca tinha ouvido falar de quase nenhum deles), montou uma exposição incrível com a curadoria do Srur, enfim...

Infelizmente, não foi o suficiente.

1) As pessoas não puderam levar sua própria água ou alimento. Até que compreensível, não fosse o fato de que eles só podiam ser comprados a preços abusivos no evento, preços de balada noturna de São Paulo. Eu mesmo tive uma barra de chocolate confiscada. E olha que era da Nestlé, uma das patrocinadoras do evento...

2) Gastei, com minha namorada, o suficiente para preencher três dígitos de um cheque. No final do evento, me restou uma ficha de R$ 3 com a qual eu não conseguia comprar nada, sequer uma água. Fui ao caixa para trocar por dinheiro e.. surpresa! Nada de devolução. Algo realmente muito estimulante do ponto de vista do consumo responsável...

3) Dona Irene, uma simpática senhora, faxineira da rodoviária de Itu, estava exausta no domingo. Nunca tinha trabalhado tanto na vida, nem visto tante gente junta. A frase dela resume bem a situação: "Poderiam ter chamado uma pessoa para me ajudar, era tudo que eu precisava". Não vou entrar aqui no mérito dos catadores de lixo durante o evento, que ganhavam R$ 45 para trabalharem 12 horas seguidas.

4) Não vi, nem ouvi, UMA mensagem sequer de sustentabilidade durante os shows. Se houve alguma banda que citou ou estimulou o público nesse sentido, por favor me avisem.

Não vou entrar aqui nos problemas de transporte, de filas nos banheiros, de ausência de estacionamento para bicicletas, de falta de informações e de equipe adequada nas saídas e na entrada, de venda de álcool, de insuficiência de latas de lixo, do número limitado de participantes do fórum, de as fichas valerem apenas por UM dia e de tantos outros assuntos repetidos à exaustão por pessoas que estiveram ali e deixaram suas opiniões na web.

São problemas que podem ser - e espero que sejam - corrigidos numa próxima edição do festival.

De qualquer forma, fica a lição: usar o argumento da sustentabilidade envolve muito mais que promover uma comunicação bacana ou expor obras que chamem a atenção para o assunto. Envolve planejamento de sustentabilidade. E, nesse aspecto, o SWU foi um verdadeiro fiasco.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Nagoya será uma nova Copenhague?

A 10ª Conferência das Partes da Organização (COP 10) das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, que acontece entre os dias 18 a 29 de outubro em Nagoya, no Japão, pode ter resultados desanimadores para a agenda global da biodiversidade.
“Poderemos ter uma nova Copenhague em Nagoya”, alertou recentemente o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Bráulio Dias, referindo-se à reunião sobre mudanças climáticas realizada em Copenhague no final do ano passado (COP 15), que terminou sem acordo efetivo entre os países.

Segundo o secretário, as reuniões preparatórias para a COP 10 realizadas em Montreal, na semana passada, não conseguiram alcançar consenso sobre o protocolo de Acesso a Recursos Genéticos e Repartição de Benefícios, o termo que regula a distribuição dos benefícios relacionados às descobertas genéticas e a aplicação dos recursos na conservação da biodiversidade.

"As negociações em Montreal não avançaram e o que vemos hoje é o risco de não termos um protocolo fechado em Nagoya", disse Dias, acrescentando que a ausência do protocolo e a não definição dos meios de implementação para interromper a perda da biodiversidade até 2020, segundo proposta dos países europeus, podem impedir os avanços esperados na COP 10.

Um fracasso em Nagoya, segundo representantes da ONU, aumentaria de maneira expressiva o risco de perda da biodiversidade no planeta em ritmo acelerado. E repetiria o fracasso do compromisso assumido em 2002 para conter “de forma significativa” essa perda até 2010, ano mundial da biodiversidade.

“A meta para 2010 não foi alcançada. E a degradação da biodiversidade se acelera no mundo”, decretou em tom pesaroso o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, após participar de reunião sobre as Metas do Milênio realizada em Nova York.

Para o MMA, significaria também um duro golpe no objetivo de assumir papel de liderança nas discussões relacionadas à biodiversidade. Ao contrário das discussões sobre o clima, nas quais credita a maior parte da responsabilidade aos países desenvolvidos, na preservação da biodiversidade o governo brasileiro assume publicamente esse papel.

Tanto que o Brasil já se ofereceu para sediar o novo “IPCC da Biodiversidade”, um painel intergovernamental da ONU específico para a biodiversidade, nos mesmos moldes do IPCC, que trata das questões climáticas e hoje é a principal referência de pesquisa no assunto.

Leia coluna publicada recentemente pela Folha em:

http://www.empresaspeloclima.com.br/index.php?page=Noticia&id=194628

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Carta de uma suposta (e inverídica) criança de seis anos...

"Senhor presidente,

Ouvi dizer que o senhor reclamou hoje, mais uma vez, das pererequinhas que ficam atrapalhando o desenvolvimento do Brasil.

Que ficam bem no meio das obras, aquelas danadas, e ainda chamam um monte de ambientalista pra ficar fazendo barulho, incomodando as pessoas de bem que trabalham e querem comer mais e comprar mais coisas também.

Quero que o senhor saiba que estou com o senhor nessa empreitada. Para o que der e vier, viu? Um dia a gente consegue um mundo sem nenhuma pererequinha!

E sem essa besteira de biodiversidade também, que cá entre nós a gente sabe que não serve para nada, a não ser dar emprego para quem fica inventando 'ano disso, ano daquilo' por aí."

quarta-feira, 9 de junho de 2010

ISE mais transparente

Boa notícia: a partir de agora, todas as decisões sobre exclusão e não inclusão de empresas no ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da BM&FBovespa, tomadas no âmbito do Conselho do ISE, serão anunciadas ao mercado (leia-se público) por meio de comunicado oficial.

É um ganho de transparência enorme, uma vez que essas decisões sempre foram sigilosas e ninguém ficava sabendo, ao menos oficialmente, quais eram os motivos de exclusão ou não inclusão de uma empresa no índice.

Quem acompanhou o caso da exclusão da Petrobras no ISE sabe do que estou falando.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Empresas e ONGs reforçam parcerias na área ambiental

"Na quarta-feira passada, durante congresso anual da Abal (Associação Brasileira do Alumínio), o representante de uma ONG ambientalista que participava de debate sobre mudanças climáticas fez uma provocação ao público.

Disse que, se aquele debate fosse realizado cinco anos antes, dificilmente o representante de uma ONG seria chamado para compor a mesa ao lado de empresários e especialistas do governo. Se o debate ocorresse há dez anos, completou, "certamente não seria chamado".

Mais do que uma brincadeira para desanuviar o clima formal do evento, composto em sua maioria por empresários e fornecedores do setor de alumínio, a provocação do representante da ONG revela uma mudança radical no modo como empresas e organizações se relacionam hoje na área ambiental. No Brasil e no mundo.

A desconfiança mútua e o confronto aberto que sempre marcou a relação entre essas duas esferas vêm gradualmente cedendo lugar a uma nova realidade: a formação de parcerias estratégicas, em causas que vão desde a preservação de bacias hidrográficas até a redução das emissões de carbono.

"Imaginar que faríamos parcerias com empresas para defender causas comuns era algo realmente impossível até bem pouco tempo atrás", diz a diretora de gestão do conhecimento da SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota.

"Hoje, esse diálogo, historicamente marcado pela disputa, passa a ser cada vez mais o da construção conjunta, especialmente no formato de parcerias", diz ela(...)"

Veja a íntegra da coluna publicada em 25/5 na Folha em:http://ces.fgvsp.br/gvces/index.php?page=Noticia&id=182344

Eco-enganação - 2

Mereceu o prêmio de greenwashing da Consumers International.

O pior não é a fala que "muita gente vem tentando fazer sua parte... mas alguns se divertem mais ao fazê-lo" ou a parte que mostra o carro ultrapassando um velho carro movido a "óleo vegetal", mas sim o destaque do "diesel limpo" no final.

Além de incoerente, mostra um desconhecimento absurdo do tema. Transporte público de qualidade e mais bicicletas nas ruas já se mostraram medidas incríveis não só para o problema da mobilidade urbana ou das emissões, mas também para a melhoria do bem estar físico e emocional das pessoas que vivem nas cidades.

*Alguém precisa agitar um prêmio semelhante no Brasil. Se bem feito, sem sensacionalismo e com visão equilibrada, será sensacional.

 

terça-feira, 18 de maio de 2010

Eco-enganação


Que me perdoem certos publicitários, mas até fazer "greenwashing" (comunicar um produto ou serviço com o apelo de "sustentável" ou "ecológico" sem a menor base para isso) tem seus limites.

No caso dessa campanha da Bombril, todos esses limites foram extrapolados.

Paciência: assim como essa peça publicitária vem sendo ridicularizada por quem entende do assunto, num futuro próximo também o será pelo consumidor comum.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Melhor seria...

A briga entre ruralistas e ambientalistas em torno de possíveis alterações no Código Florestal brasileiro promete esquentar. Ao menos essa é a impressão que fica para quem participou hoje de um interessante workshop para jornalistas sobre o assunto, promovido pelas três maiores organizações que trabalham com meio-ambiente no Brasil: SOS Mata Atlântica, WWF e Greenpeace.

Agora essa briga envolve também disputa científica. De um lado, os ruralistas empunham um estudo da Embrapa mostrando que a aplicação prática do Código, no que diz respeito às áreas obrigatórias de Reserva Legal, praticamente inviabilizaria a expansão e a própria sobrevivência da agricultura no País. De outro, diversos estudos mostrando exatamente o contrário: há áreas de sobra para a expansão da produção agrícola, inclusive sem a necessidade de desmatar o que já é permitido por lei.

Hoje o professor Gerd Sparovek, da Esalq-USP, apresentou um estudo que promete pesar a balança em favor do segundo grupo. A partir do possivelmente mais completo levantamento já realizado sobre APPs, Unidades de Conservação/Terras Indígenas e Reservas Legais no Brasil, com os devidos cuidados para se evitar dupla contagem, o estudo mostra que a aplicação do Código Florestal deixa livres mais de 100 milhões de hectares para serem desmatados.

Como o impacto ambiental disso é enorme, o estudo mostra ainda que a simples expansão agrícola sobre áreas extensivas de pastagem liberaria algo como toda a área plantada hoje em território nacional, em torno de 60 milhões de hectares. Ou seja, mais do que dobraria a capacidade de expansão da agricultura. O artigo será publicado brevemente em revista científica renomada.

Nessa discussão apaixonada, que como bem lembrou hoje uma participante do evento está mais para debate futebolístico do que qualquer outra coisa, quanto mais ciência envolvida, maior o nível do debate. E maior o conjunto de ferramentas da sociedade para tomar decisões. Isso vale para os dois lados: ruralistas e ambientalistas.

Resta saber se esse debate científico será levado nas discussões sobre o Código que tomam forma no Congresso. Muitos têm sérias dúvidas quanto a isso.

Como lembrou Paulo Adário, do Greenpeace, melhor seria se os ruralistas enxergassem os ambientalistas como parceiros. Parceiros para o avanço de seu próprio negócio, dado um mundo em que barreiras comerciais relacionadas a métodos de produção e cultivo serão cada vez mais comuns.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Brasil sai da rota do investimento no 3º setor

A consolidação do Brasil como economia emergente em rota acelerada de expansão e os efeitos da crise financeira nos países desenvolvidos, sobretudo os europeus, vêm reduzindo drasticamente o fluxo de recursos de organizações internacionais a projetos sociais no país.
 
Pesquisa realizada pelo Instituto Fonte a partir de uma amostra com 41 organizações estrangeiras com atuação no Brasil revela que essa queda pode chegar a quase 50% neste ano em comparação com 2009.

Os motivos? A crise financeira global, a mudança de prioridade para outras regiões do planeta, com destaque para a África, e a mudança de estratégia das organizações. A pesquisa revela ainda que cerca de 15% das organizações internacionais já preveem uma retirada completa de seus investimentos no Brasil até 2015.

Aos motivos acima acrescente-se para esse item o "alto desenvolvimento socioeconômico brasileiro" e a "crescente capacidade de captação de recursos internos".

"É preciso ter cuidado com a afirmação de que esse panorama de queda nos recursos caracteriza um movimento estratégico da cooperação internacional, uma tendência efetiva, pois o impacto da crise global certamente tem um peso importante nesse contexto", pondera o coordenador do Instituto Fonte, Arnaldo Motta.

"Por outro lado, existem elementos da pesquisa que reforçam a percepção de uma mudança estrutural, entre eles a prioridade crescente da destinação de recursos para o continente africano e a visão externa de que o Brasil é um país cada vez mais rico e desenvolvido."

Há também um elemento novo: a destinação de recursos a projetos sociais em regiões que não enfrentavam problemas. Uma realidade cada vez mais explícita, por exemplo, no continente europeu, onde diversos países ainda enfrentam dificuldades no processo de recuperação econômica.

"Se antes tínhamos 100% dos recursos de projetos sociais aportados nos países em desenvolvimento, hoje parte desses recursos começa a priorizar problemas internos, que estão surgindo na esteira da crise, por exemplo os relacionados às altas taxas de desemprego ou à imigração", aponta um dos coordenadores da fundação italiana AVSI no Brasil, Gianfranco Commodaro.

No caso do Brasil, a percepção crescente é a de "uma mudança efetiva no padrão econômico e de renda, uma realidade que passa a ser considerada nas análises de destinação dos recursos das grandes fundações internacionais", completa Commodaro, lembrando que hoje o próprio setor público brasileiro atua socialmente em outras regiões do mundo, como Moçambique e Angola. Inclusive com aportes financeiros.

Leia a íntegra da coluna publicada na Folha em:

http://www.geledes.org.br/noticias/brasil-sai-da-rota-do-investimento-no-3o-setor.html

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Lobbies e lobbies

Ótimo texto do Greenpeace:

"Washington — Indústrias Koch agem longe dos olhos do público e, por baixo dos panos, financiam os argumentos falsos de quem nega o aquecimento global. Uma empresa pouco conhecida, mas com bastante trabalho, passou a ExxonMobil no quesito financiamento dos céticos do clima de acordo com um levantamento realizado pelo Greenpeace. As Indústrias Koch, com sede nos Estados Unidos, têm o petróleo no centro de seus negócios, produziram o 19º homem mais rico do mundo e carregam um passivo ambiental imenso, que tentam esconder de todos os jeitos.


O relatório do Greenpeace, “Indústrias Koch: financiando secretamente os céticos do clima”, detalha como a empresa multinacional tem um papel dominante no discurso negacionista do aquecimento global nos Estados Unidos. Ela gasta milhões de dólares na promoção de céticos e seus institutos lobbistas e na oposição ao avanço de tecnologias limpas de geração de energia. “Está na hora de as Indústrias Koch limparem o jogo e deixarem de lado sua campanha suja e feita por baixo dos panos contra as ações de controle das mudanças climáticas”, afirma Kert Davies, diretor de pesquisa do Greenpeace dos Estados Unidos.

A Koch financiou (entre outros exemplos):

- Vinte organizações especializadas em negar o aquecimento global, que ecoaram a quatro cantos o Climagate, caso em que e-mails de cientistas da Universidade de East Anglia foram hackeados, no fim do ano passado. Essas organizações afirmam que as mensagens mostram que a ciência do clima é pouco confiável e ignoram a avaliação de grupos independentes que falam o contrário;

- Um artigo pseudocientífico de 2007, em conjunto com a ExxonMobil e o Instituto Americano do Petróleo, que tenta refutar a ciência que mostra como os ursos polares são ameaçados de extinção por causa do aquecimento global;

- Um grupo dinamarquês que produziu um estudo contrário à indústria de energia eólica da Dinamarca. Esse material foi usado nos Estados Unidos para rebater o apoio do presidente Barack Obama a energias renováveis. Neste ano, o ministro do Meio Ambiente da Dinamarca rejeitou os resultados do documento;

- Grupos que apóiam e promovem uma antiga e já refutada análise, que liga a indústria de energias renováveis ao desemprego na Espanha. Entre eles, destaca-se um chamado Americanos pela Prosperidade, fundado e dirigido por David Koch. Hoje, esse grupo está em campanha aberta contra o projeto de lei voltado a energias limpas de Obama, em discussão no Congresso americano.

“Ao gastar milhões de dólares no lobby e em financiamento a candidatos, Charles e David Koch poluem não apenas o ambiente mas também o processo político americano, trabalhando para impedir a aprovação da lei de energia limpa e clima por meio de um lobby corporativo intenso e financiamento de céticos”, diz Davies. “Esse processo tem como objetivo atrapalhar o avanço das negociações internacionais em torno de uma política de controle das mudanças climáticas, com o enfraquecimento da legislação americana no centro dessa estratégia.”

As Indústrias Koch são um conglomerado de US$ 100 bilhões, dominado por negócios em petroquímica, que operam em cerca de 60 países, com 70 mil funcionários. A maioria das operações é invisível ao público, com exceção de algumas poucas marcas, como Lycra® e Cordura®. No Brasil o grupo Koch está presente na forma de quatro empresas, “Georgia Pacific”, “Koch mineral services”, “Koch chemical technology group” e “Invista”.

“As empresas e funcionários do grupo Koch no Brasil tem a obrigação moral de exigir explicações e mudanças das atitudes de seus pares norte-americanos”, diz João Talocchi, coordenador da campanha de clima do Greenpeace Brasil. “No site das empresas existem diversas referências ao uso da boa ciência, responsabilidade socioambiental e criação de valores. Ao atacar a ciência e legislação sobre mudanças do clima, eles só aumentam o buraco entre o discurso e a realidade”, complementa Talocchi.

Parte da influência da Koch é centrada em três fundações, também controladas por David e Charles Koch. No financiamento de campanhas de céticos, a ExxonMobil gastou cerca de US$ 9 milhões entre 2005 e 2008. No mesmo período, as fundações controladas pelas Indústrias Koch gastaram cerca de US$ 25 milhões. Entre os grupos financiados, estão velhos centros de negação da ciência do clima, entre eles o Mercatus Center, a Fundação Heritage, o Instituto Cato, a Fundação Legal de Washington e a Fundação para Pesquisa de Economia e Ambiente (Free, na sigla em inglês)."

Bancos exigem mais critérios socioambientais

Coluna de volta!

Segue a íntegra do texto publicado na última terça-feira, 30, na Folha de S. Paulo:

"A iminência de regulamentações ambientais cada vez mais rigorosas e a acirrada concorrência do setor estão levando os bancos a ampliarem a incorporação de critérios socioambientais na análise de crédito para as empresas. A tendência, segundo bancos e especialistas ouvidos pela Folha, é que tais critérios passem a ser incluídos também no pedido de empréstimos de baixo valor, uma prática ainda rara no Brasil.

Na maior parte dos casos, a inclusão de critérios socioambientais se restringe a valores elevados de financiamento ou a setores específicos, como a agropecuária. Os Princípios do Equador, por exemplo, que estabelecem diretrizes de crédito sociais e ambientais para instituições financeiras, definem uma
linha de corte de US$ 10 milhões para a inclusão de tais critérios no financiamento de projetos de infraestrutura.

Na prática, isso permite que empresas ou projetos considerados irresponsáveis do ponto de vista socioambiental (que utilizem trabalho infantil ou incentivem o desmatamento em áreas protegidas, por exemplo) tomem crédito bancário sem maiores complicações, desde que não enfrentem problemas jurídicos -realidade comum, num país onde boa parte dos órgãos públicos de fiscalização enfrenta problemas de estrutura e de recursos.

Mais do que preocupação com o planeta, a movimentação dos bancos reflete uma apreensão com o futuro de seu próprio negócio, já que os riscos socioambientais aparecem com um potencial de estrago também sobre as instituições. (...)"


http://www1.folha.uol.com.br/folha/empreendedorsocial/ult10130u714140.shtml

sexta-feira, 12 de março de 2010

Ethos

Uma vez confirmada a saída de Ricardo Young do Instituto Ethos, quem o substitui será exatamente o seu antecessor no cargo: Oded Grajew, hoje no Movimento Nossa São Paulo. 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Alhos com bugalhos

Tenho ouvido, com uma certa frequência, pessoas desinformadas relacionando os trágicos acontecimentos no Haiti com a ação do ser humano na Terra.

Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Terremotos não tem qualquer influência humana, ao contrário do que ocorre, por exemplo, com as mudanças climáticas.

É claro que a ação humana pode ampliar a tragédia, por exemplo com construções em lugares perigosos ou a falta de preparo dos governantes para lidar com esse tipo de desastre. O que está longe, no entanto, de causá-lo.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Atendimento é desafio à sustentabilidade

"Equacionar os problemas no relacionamento com os clientes ainda é um desafio para boa parte das empresas que buscam incorporar a sustentabilidade em seus negócios. Mesmo figurando como tema central numa política de sustentabilidade ou de responsabilidade social empresarial -que busca analisar e mitigar os impactos da empresa junto a seus diferentes públicos-, essa ainda é uma relação complicada no Brasil, sobretudo no atendimento ao consumidor.

Falta de preparo dos atendentes, esperas intermináveis e sistemas eletrônicos pouco amigáveis ainda fazem da tarefa de resolver mesmo questões simples uma missão difícil. A tentativa do governo de amenizar o problema, com a publicação do decreto 6.523 -Lei do SAC-, em vigor há pouco mais de ano, teve eficácia restrita, segundo especialistas.

"Nos casos em que há repetição das condutas mesmo após a empresa sofrer multas e punições dos órgãos responsáveis, parece claro que há uma decisão empresarial que privilegia esse tipo de situação. Ou seja, um investimento significativo para conquistar clientes e fatias de mercado, sem a devida contrapartida na estrutura de atendimento ao consumidor. Uma prática que está longe de ser sustentável", diz Laura Schertel, coordenadora geral de Supervisão e Controle do DPDC (Departamento de Proteção e Defesa ao Consumidor) do Ministério da Justiça.

Como mais de 85% dos casos de reclamações registradas são resolvidos já no primeiro contato entre o órgão de defesa ao consumidor e a empresa reclamada, fica a impressão, diz Schertel, de que as companhias transferem para o poder público a responsabilidade de resolver os problemas com os clientes, usando os Procons como um filtro para avaliar a fundamentação das queixas.

Setores
O contraste aumenta com a utilização da sustentabilidade como mote cada vez mais presente nas campanhas de mídia, uma tendência que, aos olhos do consumidor, não condiz com a realidade que recebe no atendimento. Especialmente nos setores mais críticos de reclamações, como o de telecomunicações e o financeiro, que, juntos, concentram mais da metade das queixas registradas em território nacional.

"A sustentabilidade pressupõe uma relação ética e de respeito na relação com os clientes, um campo no qual boa parte das empresas ainda tem muito que avançar. Uma empresa sustentável tem de ser coerente com o que promete aos consumidores, sob risco de perder reputação e, em algum momento, a própria sobrevivência como negócio", diz Flávia Moraes, consultora de sustentabilidade da Gestão Origami. Uma pesquisa da FGV reforça a tese, ao revelar que o mau atendimento é responsável por nada menos do que 68% das perdas de clientes das empresas.

Para saber como lidam com esse dilema, a Folha procurou as cinco empresas líderes do Cadastro Nacional de Reclamações Fundamentadas de 2009, divulgado no começo do mês pelo Ministério da Justiça, que reúne os dados dos Procons de 20 Estados mais o Distrito Federal. Como o Procon de São Paulo ficou de fora dessa edição, procurou também a Telefônica, líder das reclamações fundamentadas no Estado. (...)"


Leia a íntegra da matéria publicada em 29/12 na Folha em:

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Passos

As negociações climáticas que se desenrolam ou se enrolam em Copenhague parecem repetir exatamente os mesmos passos das negociações de comércio exterior entre países. As semelhanças entre ambos os processos, guardadas as devidas proporções, chega a impressionar.

A julgar pelo ritmo de avanço na COP-15, ganha força a tese de que será mesmo o mercado a grande mola propulsora para as mudanças relacionadas ao clima nos próximos anos, especialmente no setor corporativo. Assim como no comércio exterior.

Enfraquecida a possibilidade de um grande acordo global, governos passam a centrar esforços em acordos bilterais e regionais, segundo interesses e pressões específicas. Assim como no comércio exterior.

A participação dos governos se dá mais ativamente em diferentes graus e linhas de regulação, criando uma colcha de retalhos jurídica que, geralmente, mais atrapalha do que ajuda. Assim como no comércio exterior.

O sonho de um grande acordo global não morre, mas se afasta dos centros de decisão dos governos e vira assunto para diplomatas. Assim como no comércio exterior.

Ao menos Copenhague é bem mais charmosa do que Doha.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Sofisma

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou hoje uma Sondagem Especial sobre Mudanças Climáticas, mostrando que "mais da metade das empresas industriais brasileiras adotaram, nos últimos dois anos, medidas que contribuíram para o controle das emissões de gases do efeito estufa."


O número me chamou a atenção. E parece pouco condizente com a realidade. Por exemplo: numa conversa recente com o pessoal do Centro de Sustentabilidade da FGV-SP, eles me contaram que o número de empresas brasileiras que hoje conhece suas próprias emissões de gases - ou seja, que tem inventários - não chega a duas centenas. Praticamente todas de grande porte.

Ao conferir a Sondagem, notei o detalhe que pode explicar esse constraste: "A medida mais realizada ou pretendida pelas indústrias é o uso eficiente da energia, assinalada por 75% das empresas."

Bom, usar a energia de maneira eficiente é um ótimo meio para a redução das emissões. Agora, cá entre nós, alguém acredita que tantas empresas fizeram isso pensando pensando nas suas próprias emissões? Para mim, trata-se de um sofisma, uma meia-verdade.


Prova de que é preciso ter muito cuidado com números e pesquisas relacionadas ao tema, que só tendem a crescer. Afinal, como já se disse antes, o papel aceita tudo.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Grande Nó

As últimas chuvas em São Paulo mostraram: chegamos ao "Grande Nó".

Alguém se lembra do tempo em que andar com os amigos de carro, simplesmente isso, era um programaço? Ou de quando era possível agendar horários em diferentes lugares da cidade?

Que tal andar um pouco de bike?

Pode ser um trechinho pequeno: da sua casa até a padaria da esquina. Ninguém precisa virar bike runner de uma hora pra outra. Além de saudável, o efeito de mais ciclistas nas ruas, mesmo que em trajetos mínimos, seria formidável!

Dia desses ouvi uma sugestão ótima para a Prefeitura: façam pistas de bike nos canteiros centrais das Av. Paulista, Faria Lima, Brasil, Pacaembú, a exemplo daquele ótimo trechinho da Sumaré. Com respeito aos pedestres, todo mundo ficaria numa boa.

Outra coisa legal: cada vez mais bicicletários na cidade. Notem como isso vem crescendo, inclusive com investimento social do setor privado (essa coisa de bike sempre pega bem).

Andar de bike e viajar com ela no metrô, no fim de semana, também é sensacional! Chegar no centrão, aquele lugar lindo... (tem gente preparando um roteiro para esse público, tomara que fique bom).

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Casas de Açúcar ou Pão Bahia

Será no mínimo interessante, do ponto de vista da sustentabilidade, acompanhar a futura integração entre Pão de Açúcar e Casas Bahia, cuja mega fusão foi anunciada nesta manhã.

O grupo comandado pela família Diniz tem uma política de sustentabilidade sólida, adotada há anos, e em boa medida integrada às estratégias de negócios. Já as Casas Bahia, nesse quesito, ainda engatinham.


É um dilema inevitável em todo grande negócio de fusão ou aquisição, sobretudo quando as empresas possuem culturas de sustentabilidade completamente diferentes.

Um bom exemplo desse desafio, hoje, é o do Grupo Santander Brasil, que corre atrás do tempo para alcançar a credibilidade do Banco Real no quesito sustentabilidade.

Não porque se preocupem com o futuro do planeta, mas por perceberem que se trata de um bem intangível cada vez mais valioso.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Educação exige presença do setor privado

"Garantir o acesso a uma educação básica de qualidade, um dos desafios do milênio estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas) para 2015, exigirá mais do que recursos e esforços do setor público. Exigirá, também, uma participação ativa do setor privado, seja na exploração do segmento, seja no financiamento de atividades educativas e no engajamento com os governos. Essa é a síntese de debates realizados na última semana em Doha (Qatar) durante o World Innovation Summit for Education (Wise), encontro que reuniu especialistas em educação de mais de 120 países.

"O direito à educação não é garantido hoje para milhões de pessoas no mundo e dificilmente conseguiremos cumprir essa meta nesses próximos seis anos. Isso ocorre porque a educação do século 21 exige investimentos cada vez mais complexos, que muitas vezes os Estados não dão conta de suprir", disse a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, lembrando que a crise global afetou de maneira significativa o financiamento público à educação em diversos países. (...)

Veja a íntegra da coluna publicada originalmente na Folha em:
www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u656960.shtml

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Governo quer estimular a fabricação de carros menos poluentes


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou nessa semana a criação de um grupo de trabalho no governo com o objetivo de incentivar fabricantes de automóveis a trazer para o Brasil projetos que se preocupem com o meio ambiente. O grupo será composto pelos ministérios da Fazenda, Desenvolvimento, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia.


A idéia do governo é incentivar o uso de energias renováveis e aperfeiçoar os motores flex (movidos a álcool e gasolina), reduzindo suas emissões e estimulando a produção de carros mais modernos, como os movidos a energia elétrica ou híbridos.


O ministro anunciou ainda medidas de incentivo fiscal para automóveis com motores flex e os movidos exclusivamente a álcool, que ganharão mais quatro meses de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), também com o objetivo de estimular a produção de veículos menos poluentes.


Segundo Mantega, o grupo de trabalho vai produzir o primeiro relatório de resultados no final de março de 2010, quando os novos incentivos fiscais aos carros flex terminarão.


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Terra de Contrastes

De um lado um PIB crescendo a 13% ao ano (com crise e tudo), índices de educação entre os mais elevados do planeta e uma tranquilidade nas ruas de dar inveja a padrões escandinavos. De outro, trabalhadores estrangeiros vivendo em condições deploráveis, falta de liberdade de expressão e acesso praticamente nulo à cultura, num regime que se assemelha a um curioso e complexo “apartheid econômico”.

Essas são algumas das impressões deixadas no Qatar, país em forma de verruga que nasce na Arábia Saudita e se estende sobre o Golfo Pérsico. Sua capital, Doha, é mais conhecida do que o próprio país, pelas negociações internacionais de comércio exterior que tiveram a cidade como palco. Foi ali que aconteceu o World Innovation Summit for Education, ou simplesmente “Wise”, um termo em inglês incrivelmente parecido nas mais diferentes línguas presentes no evento.

Doha é uma cidade em obras. Assim como a vizinha Dubai (o emirado mais famoso dos Emirados Árabes), invade pedaços gigantescos de mar com obras faraônicas, concentra parte relevante dos grandes guindastes da construção civil no mundo e tem luxo, de sobra, em tudo quanto é lado.

Só não tem, a exemplo de Dubai, vida ou identidade própria. É como passear em uma cidade cenográfica, onde praticamente tudo é lindo, mas falta alguma coisa. Uma história, umas pessoas. Realmente, algo difícil num lugar em que todas as construções parecem ter menos de cinco anos.

Particularmente, achei chocante o contraste entre tamanha opulência e a realidade de grande parte dos trabalhadores. São milhões de paquistaneses, filipinos, indianos e demais povos da região, cujas vidas se restringem a um único ponto: trabalhar, trabalhar e trabalhar.

O mesmo parece ocorrer com a educação. De um lado, acordos com as mais renomadas universidades americanas e européias, em prédios dignos de contos árabes. Restrita, no entanto, a poucos. De outro, pessoas simplesmente excluídas, nada mais que isso.

Num jantar de gala oferecido pela esposa do emir aos participantes do Wise, com direito a Carla Bruni como convidada propaganda e tudo, vi uma das cenas mais impressionantes de minha vida: um verdadeiro exército, de cerca de 200 a 300 pessoas, todas com a mesma altura, com feições extraordinariamente semelhantes, saiu de dentro das cozinhas para servir os convidados. “Sei lá, me deu uma coisa ruim de ver isso”, resumiu a simpática americana que se sentava à nossa mesa na ocasião. Todos sentiram o mesmo.

Uma repórter brasileira (a ótima Camila Nobrega, do Globo) conseguiu se aproximar de um deles, que entre espantado e curioso contou a ela um pouco da sua vida. Albert, esse era o nome no seu crachá, vivia numa vila de trabalhadores da empresa que o contratou em seu país. Como um quartel improvisado, não se pode entrar ou sair de lá após as 23 horas. Mulheres e homens ficam separados.

Contou ainda que os trabalhadores, uma vez demitidos, são obrigados a voltar ao seu país de origem. Trazer a família do exterior, nem pensar, mesmo com um emprego razoável – o que explica, raciocinei, os índices de desemprego de primeiro mundo que o país ostenta.

Outras pessoas, semelhantes a Albert, relataram a mesma estória. Não com raiva ou arrependimento, apenas com a dignidade fria de quem não enxerga melhor opção.


terça-feira, 3 de novembro de 2009

Entrevista - Lester Brown

Uma das vozes mais influentes do planeta quando o assunto é sustentabilidade, Lester Brown esteve recentemente no Brasil para lançar a versão tupiniquim de seu livro "Plano B - 4.0". Em resumo, um verdadeiro manual sobre como sair da enrascada ambiental e alimentar em que a sociedade se meteu.

Em uma bateria de entrevistas para a imprensa local, invariavelmente de paletó sem gravata e vistosos tênis brancos, conversou com a repórter Marina Matos, que estréia em grande estilo sua participação neste blog. Confira:

Marina - As últimas semanas reforçaram o ceticismo sobre um acordo climático global na reunião de Copenhague, em dezembro. Qual será o efeito disso?
Lester Brown - Algumas das coisas mais importantes acontecendo no mundo hoje, sobre o clima, não tem nada a ver com Copenhague ou com governos. Por exemplo: a expansão das usinas eólicas no Texas, estado não exatamente conhecido por seu perfil ambiental. Ou a compra de energia solar do norte da África por empresas européias. O interessante dessas ações é que todas elas são extremamente importantes do ponto de vista climático. E não têm nenhuma participação direta de governos.

Ou seja, é possível avançar mesmo sem grandes acordos...
Por definição, a negociações internacionais sobre acordos climáticos não têm resultados muito audaciosos. Nenhuma delegação quer fazer mais do que as outras, e todas querem mostrar o máximo fazendo o mínimo. Eu tenho a sensação de que muitas das coisas que tem de ser feitas serão conduzidas por forças independentes dos governos. Acredito mais no que já está sendo feito pelos países e por acordos bilaterais do que em um grande acordo global.

O mercado é uma força “sustentável” nesse sentido?

O problema do mercado é sua falta de honestidade. Ele não diz a “verdade ecológica”. Não diz que, quando nós queimamos um barril de gasolina, pagamos pelos custos de produção, refino e distribuição, mas não os custos dos impactos climáticos dessa produção, como o da emissão de CO2. Esses são custos que num futuro próximo podem ser maiores do que o da própria produção de gasolina. Isso tudo leva o mercado a pensar que combustíveis fósseis são baratos quando comparados a outras fontes de energia renováveis, o que não é verdade.

O que pode ser feito?
As mudanças climáticas são resultado de um grande fracasso de mercado. Portanto, o que deve ser feito é reduzir os impostos sobre o trabalho e a renda e aumentar a taxação sobre esses custos ambientais, como as emissões de carbono. Aqui sim, os governos podem fazer a diferença. Enquanto isso, o setor privado aumenta sua pressão, sobretudo com as grandes empresas. Veja o caso do Wal-Mart: as grandes redes varejistas têm um poder de influência enorme sobre os fornecedores, maior até que o dos consumidores. Isso está se tornando finalmente um modelo estabelecido.

Há um gatilho climático ou econômico que obrigará o mundo a adotar o “Plano B” de que trata o livro?
Esperamos gatilhos de ordem climática que podem provocar profundas transformações econômicas e sociais, algo semelhante ao que o ataque à Pearl Harbor representou para a economia americana há décadas atrás. Mas ainda não sabemos ao certo. Se perguntarmos para os cientistas, a maioria deles provavelmente falaria do derretimento das calotas polares, um fenômeno que, se ocorresse em sua totalidade, faria com que os oceanos se elevassem em cinco metros, com profundos impactos nas regiões litorâneas. Se um pedaço grande dessas calotas derretesse, já seria o suficiente para que ocorresse uma elevação assustadora do nível dos oceanos.

Uma provocação: as novas tecnologias em desenvolvimento, por exemplo as de sequestro de carbono na atmosfera, não podem alterar completamente a urgência que é citada em seu livro?
Eu não tenho muita confiança em tecnologias de sequestro de carbono. As indústrias vêm falando disso há anos e quase nada está acontecendo de fato. A grande questão aqui é que é bastante improvável que algo comercialmente viável seja feito antes 2020, assim como em outras tecnologias semelhantes. Ou seja: até lá, nosso tempo pode ter se acabado.

Notícia importante

Parece um avanço para uma questão das mais complicadas a serem debatidas na COP-15. A notícia está estampada com destaque no site do Ministério do Meio Ambiente:

"Ministros de Meio Ambiente e representantes de 24 países fecharam um acordo, neste sábado (31/10), em Barcelona, para a criação de um fundo internacional de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas, em que os países desenvolvidos vão ajudar os em desenvolvimentos nas ações para mitigação do aquecimento global. Participaram do encontro representantes dos principais países que estarão na Convenção do Clima (COP-15), em dezembro, em Copenhague, na Dinamarca.

O fundo será financiado pelos países desenvolvidos, levando em conta o princípio do protocolo de Kyoto de responsabilidades diferenciadas para nações ricas e pobres. Então, ficou acertado que os países desenvolvidos vão dar dinheiro ao fundo de adaptação, e os em desenvolvimento ficam com o compromisso de investir diretamente em ações de combate às alterações do clima no próprio território. " (...)
 
Link: http://www.mma.gov.br/

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Acordos bilaterais sobre o clima avançam

"Sai de cena a celebração de um grande acordo climático em escala mundial; ganham espaço acordos bilaterais entre países, legislações nacionais e a autorregulação do mercado como forças motrizes para a redução das emissões de gases do efeito estufa no planeta.

Essa é a síntese das expectativas majoritárias em relação à reunião de Copenhague (COP-15), em dezembro, na qual os países levarão suas propostas de corte das emissões de gases do efeito estufa em busca de um acordo multilateral para a redução do aquecimento global. Nos últimos dias, após breve intervalo de ânimo gerado por iniciativas como a do Japão, que anunciou metas de redução ambiciosas, ou das manifestações do setor privado cobrando ousadia nas propostas dos governos, as expectativas de sucesso para a reunião de Copenhague voltaram a azedar.

A falta de sinais claros sobre a legislação norte-americana que estabelece tetos para as emissões, cuja tramitação enfrenta forte resistência no Senado, reforçam esse quadro de ceticismo. Assim como declarações de lideranças que participaram das reuniões preparatórias para a COP-15, como a do presidente da Comissão do Clima da ONU, Ivo de Boer, que criticou abertamente a falta de progressos na reunião de Bancoc, realizada no começo do mês.

"Está ficando claro que não vamos chegar a um acordo climático amplo em Copenhague. Nenhuma delegação quer fazer mais do que as outras. E todas procuram mostrar o máximo com o mínimo", resumiu à Folha o economista americano Lester Brown, considerado uma das vozes mais influentes no tema da sustentabilidade." (...)

Confira a íntegra da coluna publicada na Folha em: http://www.abrace.org.br/port/noticias/ler.asp?id=12882

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mercado financeiro ignora onda sustentável

"Há poucas semanas, um manifesto cobrando metas ambiciosas na redução de emissões de gases para a reunião de Copenhague (COP-15), em dezembro, causou surpresa. Não por seu conteúdo, semelhante ao de várias manifestações divulgadas naquele momento, mas pelo ineditismo dos signatários: 181 investidores institucionais de peso no mercado financeiro, que juntos administram mais de US$ 13 trilhões em recursos.

A surpresa veio do fato de os investidores serem um grupo geralmente discreto nesse debate. A velocidade com que a sustentabilidade (na qual a questão climática ocupa hoje papel central) vem sendo incorporada nas estratégias de negócios das empresas, inclusive nos bancos, contrasta com a percepção média sobre o tema no mercado financeiro.

"É um paradoxo. Ao mesmo tempo em que o mercado financeiro praticamente ignora essas questões, o setor produtivo e as cadeias varejistas passam a tê-las como exigências cada vez mais presentes", afirma o professor Ricardo Abramovay, da FEA-USP."Veja o caso da carne rastreada na Amazônia. A decisão das grandes redes varejistas de suspender a compra dos produtos e de instituições como o IFC [International Finance Corporation] de cancelar os financiamentos quase gerou a falência de algumas das empresas envolvidas", afirma. (...)"

Veja a íntegra da última coluna publicada na Folha em: http://www.portaldoeconomista.org.br/noticias/mercado-financeiro-ignora-onda-sustentavel.html

Confira a íntegra do documento citado no começo da matéria em: http://www.ceres.org/Document.Doc?id=495

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Empresas cobram posição do governo sobre meta climática

As últimas semanas foram fartas de manifestações do setor privado sobre a 15ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP-15), em dezembro, na Dinamarca, o encontro de lideranças que poderá decidir a velocidade com que o mundo entrará na chamada "economia de baixo carbono" a partir de 2012.

No Brasil, a fila começou a ser puxada no final do mês passado, quando um grupo de 22 empresas encabeçadas pela Vale (entre elas Aracruz, Votorantim, OAS, Grupo Orsa e Pão de Açúcar) lançou a "Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas", manifesto no qual assume compromissos de redução de emissões e cobra do governo um papel de liderança nessa discussão.

Ao documento, concebido em parceria com o Fórum Amazônia Sustentável e o Instituto Ethos, seguiram-se uma série de outros, de conteúdo semelhante, como o do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), assinado por empresas como Bradesco, Gerdau, Nestlé, Philips e Petrobras, entre outras. Ou o da Aliança Brasileira pelo Clima, que teve como signatários 14 entidades representativas do agronegócio e da bioenergia.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) também divulgam nos próximos dias um documento conjunto com a posição oficial da indústria sobre as questões que serão debatidas na COP-15. Tantas manifestações e pedidos de assinatura chegaram a confundir os próprios empresários, que a partir de determinado momento não sabiam mais qual documento estava "valendo" ou qual era o "quente", segundo relatou um deles.(...)

Leia íntegra da coluna publicada na Folha em:
http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?cod=584668

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Energia Espacial

A tecnologia é uma coisa engraçada.

Veja, por exemplo, a corrida das fontes renováveis de energia: o etanol da cana-de-açucar prometia ser o novo petróleo "verde" do planeta, mas aí começaram a aparecer pesquisas com o etanol celulósico, muito mais eficiente e mais "verde" também.

Com dinheiro para pesquisas, surge uma série de outras opções, algumas inclusive bastante exóticas e revolucionárias. Como, por exemplo, simplesmente captar a energia solar gerada no Espaço.

Parece loucura? Pois então acesse esse site: http://www.spaceenergy.com/