quarta-feira, 13 de outubro de 2010

SWU: considerações

Antes de tudo, é bom ressaltar que não existe pessoa, evento ou empresa 100% sustentável. A sustentabilidade é sempre uma busca, um objetivo, uma espécie de cenourinha a orientar ações pessoais e coletivas para um mundo melhor e mais organizado.

É bom ressaltar também que estou organizando um evento de sustentabilidade, a Virada Sustentável de São Paulo (http://www.viradasustentavel.com/), e que os comentários aqui não guardam qualquer relação com isso. Pelo contrário: quanto mais eventos com esse tema, melhor para todos, desde que sejam sérios.

Pois bem, estive no SWU no último fim de semana. Um mega festival, muito bonito, bandas incríveis e uma organização até que razoável para um evento de tal porte. Só faltou, na minha opinião, alinhar com o tema da comunicação utilizada na sua divulgação:  a sustentabilidade.

A organização até que correu atrás, na última hora, de parcerias e apoios que aproximassem o evento da sustentabilidade. Chamou ONGs ambientalistas, criou um fórum de debates com personagens internacionais (eu, como colunista da Folha, nunca tinha ouvido falar de quase nenhum deles), montou uma exposição incrível com a curadoria do Srur, enfim...

Infelizmente, não foi o suficiente.

1) As pessoas não puderam levar sua própria água ou alimento. Até que compreensível, não fosse o fato de que eles só podiam ser comprados a preços abusivos no evento, preços de balada noturna de São Paulo. Eu mesmo tive uma barra de chocolate confiscada. E olha que era da Nestlé, uma das patrocinadoras do evento...

2) Gastei, com minha namorada, o suficiente para preencher três dígitos de um cheque. No final do evento, me restou uma ficha de R$ 3 com a qual eu não conseguia comprar nada, sequer uma água. Fui ao caixa para trocar por dinheiro e.. surpresa! Nada de devolução. Algo realmente muito estimulante do ponto de vista do consumo responsável...

3) Dona Irene, uma simpática senhora, faxineira da rodoviária de Itu, estava exausta no domingo. Nunca tinha trabalhado tanto na vida, nem visto tante gente junta. A frase dela resume bem a situação: "Poderiam ter chamado uma pessoa para me ajudar, era tudo que eu precisava". Não vou entrar aqui no mérito dos catadores de lixo durante o evento, que ganhavam R$ 45 para trabalharem 12 horas seguidas.

4) Não vi, nem ouvi, UMA mensagem sequer de sustentabilidade durante os shows. Se houve alguma banda que citou ou estimulou o público nesse sentido, por favor me avisem.

Não vou entrar aqui nos problemas de transporte, de filas nos banheiros, de ausência de estacionamento para bicicletas, de falta de informações e de equipe adequada nas saídas e na entrada, de venda de álcool, de insuficiência de latas de lixo, do número limitado de participantes do fórum, de as fichas valerem apenas por UM dia e de tantos outros assuntos repetidos à exaustão por pessoas que estiveram ali e deixaram suas opiniões na web.

São problemas que podem ser - e espero que sejam - corrigidos numa próxima edição do festival.

De qualquer forma, fica a lição: usar o argumento da sustentabilidade envolve muito mais que promover uma comunicação bacana ou expor obras que chamem a atenção para o assunto. Envolve planejamento de sustentabilidade. E, nesse aspecto, o SWU foi um verdadeiro fiasco.