quarta-feira, 30 de julho de 2008

Corrida Climática

Os países industrializados estão atrasados na corrida contra as mudanças climáticas. E nenhum deles deve atingir as metas de redução de emissão para evitar um aquecimento global superior a 2ºC nos próximos anos.

O alerta vem do relatório "G8 Climate Scorecards 2008", produzido pela Ecofys e realizado a partir de uma parceria entre a Rede WWF e o grupo segurador Allianz -e apresentado na última reunião do G8, no Japão. Entre os mais avançados na corrida contra o aquecimento, estão Reino Unido e França. Na lanterninha, Canadá e Estados Unidos.

O relatório também traça um panorama das políticas relacionadas ao clima e à eficiência energética nas cinco principais economias emergentes fora do G8 (Brasil, China, Índia, México e África do Sul). A conclusão é de que elas registram uma enorme disparidade sobre como lidar com a questão das mudanças climáticas, o que torna o desafio do aquecimento global ainda mais difícil.

Confira a íntegra do relatório (em português): http://www.allianz.com.br/

ISO 26000, mais próxima do que nunca

A implementação da ISO 26000, prevista para 2010, está próxima de um passo decisivo: a aprovação de seu conteúdo final, que pode acontecer na reunião que será realizada entre 1º e 5 de setembro em Santiago, no Chile, com representantes dos diversos países envolvidos nas discussões sobre o conteúdo da norma.

"As expectativas sobre a reunião de Santiago são, além de muito grandes, bastante positivas", diz o gerente de Normalização Internacional da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), Cláudio Guerreiro. Além de representar a ISO no Brasil, a ABNT é uma das líderes do processo de discussão da norma, ao lado da sueca SIS.

"Estamos otimistas de que finalmente conseguiremos fechar o texto dessa versão da minuta que será apresentada em Santiago. É um avanço muito importante, pois com isso teríamos a norma com seu conteúdo praticamente fechado, faltando somente definir questões de edição, de forma", diz Ana Paula Grether, da Petrobras, especialista que representa a indústria na delegação brasileira nos grupos de debate.

Quem acompanha as discussões da ISO 26000 desde a sua origem, em 2005, sabe da importância desse passo. Tanto pela representatividade global que adquiriu (são mais de 300 especialistas de 77 países) como pela força da ISO -International Organization for Standardization nas padronizações internacionais, a norma que busca afinar as definições de responsabilidade social e orientar a aplicação desses conceitos nas organizações já nasce com potencial para se tornar a principal referência mundial de responsabilidade social para empresas, governos e organizações da sociedade civil.

É exatamente por isso que ela tem provocado, ainda que nos bastidores, tanta polêmica. Ao tratar de praticamente todos os temas que envolvem o relacionamento das organizações (sejam elas empresas, governos, ONGs etc.) com os seus públicos, as discussões sobre o conteúdo da ISO 26000 nunca geraram consenso entre os participantes. A ponto de se decidir que a norma, ao contrário das demais da família ISO (como a 9000 ou a 14000), não seria certificável. Ou seja, que ela será apenas uma diretriz, uma orientação da responsabilidade social para as organizações, mas sem nenhum selo de certificação a ser conquistado.

(veja a íntegra em http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/923)

*Coluna publicada na Folha de S. Paulo, caderno Dinheiro, em 29 de julho

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Assim é, se lhe parece


Muitas vezes, aquilo que nos parece melhor em termos socioambientais nem sempre o é.

Vejam, por exemplo, o caso do papel reciclado. Um dia desses, ao comentar sobre um banco que acredito vem incorporando de maneira interessante princípios de responsabilidade socioambiental, uma amiga me retrucou: "Não acho, eles nem têm cheques com papel reciclado, como o bancod e fulano"

Em princípio - e para quase todo mundo - o reciclado parece ser mais "ecológico" do que o papel comum. Ocorre que nem sempre isso é verdade, me explicou ontem o querido Lineu Siqueira, da ONG Imaflora, uma das principais certificadoras do selo FSC (hoje a maior referência em certificação de produtos florestais no mundo).

O motivo é que o papel comum proveniente de florestas certificadas, segundo ele, tem muito mais garantias em termos de práticas sociais e ambientais corretas do que seus pares reciclados - que na maior parte dos casos não carrega certificação ou selo socioambiental.

"Na média, o papel produzido a partir de florestas plantadas com esse objetivo industrial, com o manejo e as condições de trabalho adequadas, são muito mais ecológicos que o papel reciclado. E mesmo no caso do reciclado, as pessoas deveriam observar a porcentagem de materiais realmente pós-consumo utilizada", defende Lineu.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Diesel: a versão da Petrobras

Ontem a Petrobras divulgou seu relatório social e ambiental de 2007. Foram R$ 534 milhões investidos em atividades sociais, esportivas e culturais ao longo do ano passado. Se somados os projetos de meio-ambiente, esse valor sobe para R$ 585 milhões.

Constava também do relatório social, o que é louvável, os questionamentos de setores da sociedade sobre o teor de enxofre do diesel produzido pela estatal. Em abril deste ano, uma ação movida no Conar pela Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo e por organizações como o Movimento Nossa São Paulo e Akatu, entre outros, levou à suspensão de dois anúncios que vinculavam a empresa à questão ambiental. A alegação era de que, com base no que seria uma demora excessiva da Petrobras em reduzir o teor de enxofre de seu diesel, ela não poderia usar esse marketing "ambiental".

O gerente de Responsabilidade Social da Petrobras, Luís Fernando Nery, gastou boa parte do tempo dedicado às entrevistas para falar sobre o assunto. Em sua opinião, o debate sobre o teor de enxofre no diesel tomou uma dimensão emocional, que não condiz com a complexidade do tema.

Sobre a demora da Petrobras em iniciar as pesquisas e a produção de diesel mais leve (com menor teor de enxofre), ele lembrou que a regulamentação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) do que seria a composição desse diesel(50 ppm) só saiu em outubro do ano passado. "Ninguém vai fabricar um medicamento ou montar uma fábrica para produzí-lo se não conhece sequer as especificações do produto, isso seria temerário do ponto de vista empresarial", explicou Nery. Foi por conta desse atraso na regulamentação, segundo ele, que a Petrobras só pode começar as unidades de tratamento para redução do teor de enxofre do diesel no final do ano passado.

Além disso, Nery defende que houve um grande equívoco sobre o fato de que o Conama teria decidido uma redução do teor de enxofre do diesel produzido pela Petrobras. O que o órgão que traça diretrizes para o meio-ambiente fez, segundo ele, foi determinar limites de "emissões" para determinados produtos. O que, no caso do diesel, não depende apenas da redução do teor de enxofre, mas também do motor do veículo e de sua regulagem, bem como da qualidade do combustível (sujeito a alterações) e da velocidade média no tráfego.

"Não há nada na resolução do Conama que estabeleça parâmetros de enxofre para o diesel, até porque não cabe a ele fazer isso. Dizer que o problema da emissão em São Paulo é só por causa do diesel é vilanizar o produto, é colocar uma visão simplista para um problema complexo", disse o executivo, acrescentando que, segundo pesquisas, um quarto da frota de veículos a diesel em São Paulo está desregulada, representando 80% da emissão.

De nada adiantará a redução do enxofre (de 2000 ppm para 50 ppm), acrescentou Nery, se o trânsito da capital paulista continuar travado como está - e piorando. Questinou, nesse sentido, porque a Secretaria do Meio Ambiente não antecipou a inspeção veicular (que começou este ano) em São Paulo, como fizeram outros estados. "É fácil atirar pedra nos outros. Essa questão tomou uma dimensão completamente emocional", criticou o gerente da Petrobras, atribuindo - sem citar nomes - motivações de diversas ordens para a ação no Conar, inclusive as de ordem "nitidamente políticas e de curtíssimo prazo".

Chegou até a citar o Ministério da Verdade, do livro 1984, de George Orwell, que transformava mentiras em verdades absolutas aos olhos da população. "O site do Movimento Nossa São Paulo coloca a decisão do Conar como uma decisão histórica, em que dois anúncios foram suspensos. Só que não falam que eram três anúncios, que um deles teve sua suspensão revogada e que os outros dois ainda sequer foram julgados, apesar da suspensão."

A Petrobras promete entregar o diesel de 50 ppm na capital paulista até janeiro deste ano, para os veículos com determinada motorização.

Não importa quem esteja com a razão, toda essa discussão traz um ensinamento importante: as empresas que adotam o tema socioambiental como parte de sua estratégia de negócios e de marketing serão cada vez mais cobradas a atuarem em linha com tais princípios. E quanto maior o apelo, maior o telhado de vidro.