terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O caso da maionese



É difícil falar de sustentabilidade.

Vejam só o caso da maionese: o sujeito adora maionese. Não tem o hábito de incluí-la em sua dieta diariamente, mas adora. Compra sempre o menor pote, afinal a maionese estraga rápido e ele acha aquilo um desperdício de comida. Tem consciência social.

O mesmo sujeito percebe, um dia, que pode comprar maionese em sachês. Uma opção que evita o desperdício que tanto o incomoda e, para sua surpresa, é mais barata. O dinheiro de um único pote equivale a meses de maionese em sachê. Descobre a consciência econômica.

Algum tempo depois, nota que a lata de lixo anda cheia de sachês vazios. Lembra-se de algo relacionado a quantos anos uma bituca de cigarro leva para se decompor no mato. Aquilo deveria ser muito pior. Depara-se com a consciência ambiental.

Confuso, chega a comprar potes pequenos novamente, mas um amigo lhe conta que, para a natureza, jogar maionese fora é muito pior do que jogar sachês. Óleo puro. Um verdadeiro problema ambiental.

Ele volta aos sachês, agora recicláveis, mas seus preços explodiram por conta da enorme demanda por maionese em sachês. Pessoas até deixam de comprar outras coisas para continuar comendo a maionese da embalagem que não agride o meio ambiente. Cria-se um desequilíbrio econômico.

Joga a toalha. Para de comer maionese.

Na fábrica de maionese, começa a tomar forma um problema social...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Petrobras fora do ISE

A Petrobras foi excluída da nova carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa, por conta da polêmica envolvendo o teor de enxofre no diesel que produz.

Longe de apontar quem está certo e quem está errado (clique nos links abaixo para saber mais sobre a defesa da estatal e sobre as acusações), é digno de nota o fato de que a notícia não trouxe qualquer impacto às cotações das ações da empresa listadas na Bovespa, que subiram bem nesta quarta-feira.

Ok, há fatores macro que justificam esse comportamento: a Petrobras é quase o Ibovespa, e como ação mais líquida desse mercado ela oscila ao sabor do próprio mercado, não dos fatos da empresa (salvo, claro, descobertas de reservas no fundo do mar e oscilações nos preços internacionais do petróleo).

De qualquer forma, qual será o real impacto da exclusão da estatal do ISE? Arranhão à marca? Essa é uma pergunta que ainda está por ser respondida.

http://sociaiscia.blogspot.com/2008/07/diesel-verso-da-petrobras.html

http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/files/ISEbovespa.pdf

Crise e Obama dão impulso a energia limpa

"Entre os raros setores da economia que podem de algum modo se beneficiar com a crise global, nenhum tem merecido tanto destaque quanto o das chamadas energias limpas, caracterizadas pela origem em fontes renováveis (como o vento, o sol ou a água) e pela baixa emissão de gases causadores do efeito estufa.

"Nova economia energética" e "Green New Deal" são apenas algumas das expressões que surgiram recentemente e que acompanham o entusiasmo com a possibilidade de que as energias limpas, no futuro, possam assumir o lugar hoje ocupado pelo petróleo e pelo carvão como motores da economia mundial."

Confira a íntegra da coluna publicada na Folha no dia 25/11:

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=60128

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Para pensar

É viável pedir a um cidadão que ele deixe de lado alguns dos prazeres mundanos (comprar um carro ou uma TV de plasma, por exemplo) porque isso pode prejudicar o meio ambiente e a vida no planeta? Essa pessoa estará realmente disposta a abrir mão desse conforto para solucionar um problema que ela simplesmente não causou?

O caminho não é esse, argumentou há pouco o genial Fritjof Capra, em entrevista concedida na sala de imprensa do evento Ecopower Conference, em Florianópolis.

A resposta veio na forma de uma lembrança pessoal. "Um dia vim a São Paulo para fazer uma palestra em Cotia e, desde o aeroporto de Guarulhos até lá, andei em média 6 km por hora, devido ao intenso congestionamento dos carros. O que temos de explicar às pessoas é que elas não estão abrindo mão de um conforto pessoal, mas sim de um problema que as afetará diretamente em seu dia-a-dia".

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Exageros

Estavam lá, nos jornais do fim de semana. Eram dois anúncios de vestibular, cada um de uma universidade. Um deles destacava, em letras garrafais, "responsabilidade social". No outro, "responsabilidade ambiental".

Interessado, fui ver do que se tratava. A tal responsabilidade social era, na verdade, a garantia de emprego (estágio) para os melhores colocados no vestibular. Traduzindo, uma troca de interesses que nada, mas nada mesmo, tem a ver com responsabilidade social.

No outro anúncio, pior ainda: fazendo o vestibular a pessoa estava ajudando a "salvar o planeta" (sic), pois cada inscrição correspondia a uma árvore plantada.

Os mais otimistas dizem que esse tipo de exagero, na mídia, é positivo, pois terá o efeito de chamar a atenção das pessoas para o tema. Sei não. Às vezes tenho a impressão de que isso só tira o crédito dessa idéia maravilhosa que é ganhar dinheiro pensando de maneira responsável. Vide, por exemplo, o cansaço das pessoas com esse bombardeamento midiático da sustentabilidade. Tomara que eu esteja errado.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Crise ou oportunidade?

Coluna publicada ontem, 28 de outubro, na Folha:

"A crise financeira global acertará em cheio a onda de sustentabilidade que o mundo corporativo viu crescer nos últimos anos. Enquanto o financiamento para as organizações e projetos sociais acusa os primeiros sinais de aperto, em diversas empresas a preocupação com a área socioambiental começa a ceder espaço para a preocupação com a própria sobrevivência financeira.

Ainda que ninguém conheça ao certo a dimensão e os efeitos da crise sobre a economia real, especialistas ouvidos pela Folha são unânimes em afirmar que ela será um importante teste para a continuidade -ou a interrupção- dessa onda"

http://www.sustentabilidade.blog.br/?p=1129

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Cadeia de biocombustíveis busca certificação

(coluna publicada hoje na Folha de S. Paulo, caderno Dinheiro)

As exigências mais rígidas de sustentabilidade por parte do mercado europeu vêm gerando uma autêntica corrida pela certificação de critérios socioambientais na cadeia de produção dos biocombustíveis, especialmente do álcool.

O objetivo é atestar a adoção e a prática de critérios socioambientais na cadeia produtiva desses combustíveis, como a não-utilização de trabalho infantil ou escravo, temas que aparecem com cada vez mais freqüência nas discussões de comércio exterior e que muitas vezes funcionam como barreiras não-tarifárias.

"Estamos falando de uma discussão ampla, complicada, polêmica e política", diz Marcio Nappo, assessor de meio ambiente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). "Há uma parte legítima de preocupação com os impactos sociais e ambientais da cadeia do etanol nessa discussão, mas há também um componente político muito forte, por exemplo relacionado aos interesses de protecionismo e à pressão da indústria de alimentos."

(confira a íntegra em http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=58963)

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O mau gosto da sustentabilidade

Todo mundo está de olho no tema da sustentabilidade. Ótimo. Mas tenho visto cada vez mais exemplos de uma certa dose de exagero (pode chamar de mau gosto) nas questões relacionadas ao tema. Cito aqui duas, que presenciei recentemente.

Uma delas é a exposição Ecos da Amazônia - 2008, na Fundação Bienal, que promete uma verdadeira "viagem interativa" no mundo da selva amazônica, com supostos ambientes da selva e imagens e textos educativos sobre o tema. Tem como principais patrocinadores o Bradesco e a Kraft Foods.

Pois bem, chego lá na abertura da exposição, a entrada é uma simulação da selva em uma sala com pouco mais de 20 metros quadrados, com alguns sons de floresta e diversos panos verdes imitando a mata. Nenhuma folhinha sequer. Pobre, mas o pior é quando você sai dessa primeira sala: cai de cara nos estandes dos patrocinadores, aquela luz branca quase cegando as pessoas, um lugar que mais parece uma feira corporativa do que uma exposição ecológica.

Aquilo já me frustrou um bocado. Sigo em frente e o que vejo são fotos (algumas excelentes) em quadros excessivamente pequenos, algumas absolutamente sem resolução, além de produtos do artesanato local e mais um ou outro exemplo (invariavelmente de mau gosto) de habitat da selva. Para piorar, um discurso um tanto altista de um representante da ProCultura, responsável pela exposição, como se aquele fosse o evento do ano.

A única coisa que salva na exposição é um quadro (bolado por um indianista e matemático) com as diferentes épocas do ano, os climas e seus efeitos na terra, água e ar, feito a partir da visão dos índios. Muito bom, mas só isso.

O outro exemplo foi o inesquecível show do João Gilberto, em São Paulo, em comemoração aos 50 anos da Bossa Nova. Aconteceu no auditório do Ibirapuera e teve patrocínio do Itaú.

Pois bem, fui no segundo dia de show, a convite do banco, e chegando lá dava para perceber que a confusão com a venda de ingressos na Internet teve um motivo óbvio: só havia praticamente celebridades e rostos conhecidos no evento, que duvido compraram os ingressos no site de vendas. Até aí tudo bem...

O pior foi ver o Zuza Homem de Mello, do alto de sua experiência em crítica musical, fazer um discurso de abertura que mais parecia um evento do próprio Itaú (comprovando minhas suspeitas em relação aos convites). Sim, achei que ia começar ali um seminário sobre sistema financeiro como os vários que presenciei em minha vida.

Poxa, tudo bem falar "O Itaú agradece a presença de todos", ou "se orgulha de poder proporcionar esse momento", mas não foi o que aconteceu. Foi bem mais extenso e absolutamente sem necessidade, uma vez que havia uma escultura do logo do Itaú no palco até bem pouco antes do começo do show. Em outras palavras, todo mundo sabia que o banco tinha patrocinado todo o evento, mas ninguém estava ali para ouvir palavras sobre o Itaú, e sim para ouvir o som ímpar do João. Um tremendo mau gosto.

Há vários outros exemplos. Mas o que as empresas precisam entender é que, em eventos culturais, sociais e esportivos, a ânsia de aparecer bem na foto pode acabar gerando um efeito inverso ao pretendido. E que, antes de tudo, é preciso privilegiar o bom gosto. Ou ao menos o bom senso.

Ação social sem aporte financeiro cresce no País

"O investimento social privado que não envolve o aporte direto de recursos para organizações e projetos vem ganhando cada vez mais espaço no setor empresarial. Em vez de dinheiro, entram a expertise das empresas nas respectivas áreas de atuação, os conhecimentos de gestão, administração e tecnologia, além da própria infra-estrutura, que são repassados às organizações e projetos sociais apoiados ou geridos pelas empresas e até mesmo a programas do setor público.

Um dos exemplos mais conhecidos desse tipo de atuação é o do Instituto Avon, que há anos apóia a causa do combate ao câncer de mama entre as mulheres e utiliza seu universo de revendedoras dos produtos para disseminar informações sobre a doença e seus métodos de prevenção, tanto no contato direto com as consumidoras como em espaços reservados ao tema nos 5 milhões a 6 milhões de folhetos de venda distribuídos a cada 19 dias".

Íntegra da coluna publicada na Folha em 26/08: http://www.portaldovoluntario.org.br/site/pagina.php?idclipping=48720&idmenu=45

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Corrida Climática

Os países industrializados estão atrasados na corrida contra as mudanças climáticas. E nenhum deles deve atingir as metas de redução de emissão para evitar um aquecimento global superior a 2ºC nos próximos anos.

O alerta vem do relatório "G8 Climate Scorecards 2008", produzido pela Ecofys e realizado a partir de uma parceria entre a Rede WWF e o grupo segurador Allianz -e apresentado na última reunião do G8, no Japão. Entre os mais avançados na corrida contra o aquecimento, estão Reino Unido e França. Na lanterninha, Canadá e Estados Unidos.

O relatório também traça um panorama das políticas relacionadas ao clima e à eficiência energética nas cinco principais economias emergentes fora do G8 (Brasil, China, Índia, México e África do Sul). A conclusão é de que elas registram uma enorme disparidade sobre como lidar com a questão das mudanças climáticas, o que torna o desafio do aquecimento global ainda mais difícil.

Confira a íntegra do relatório (em português): http://www.allianz.com.br/

ISO 26000, mais próxima do que nunca

A implementação da ISO 26000, prevista para 2010, está próxima de um passo decisivo: a aprovação de seu conteúdo final, que pode acontecer na reunião que será realizada entre 1º e 5 de setembro em Santiago, no Chile, com representantes dos diversos países envolvidos nas discussões sobre o conteúdo da norma.

"As expectativas sobre a reunião de Santiago são, além de muito grandes, bastante positivas", diz o gerente de Normalização Internacional da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), Cláudio Guerreiro. Além de representar a ISO no Brasil, a ABNT é uma das líderes do processo de discussão da norma, ao lado da sueca SIS.

"Estamos otimistas de que finalmente conseguiremos fechar o texto dessa versão da minuta que será apresentada em Santiago. É um avanço muito importante, pois com isso teríamos a norma com seu conteúdo praticamente fechado, faltando somente definir questões de edição, de forma", diz Ana Paula Grether, da Petrobras, especialista que representa a indústria na delegação brasileira nos grupos de debate.

Quem acompanha as discussões da ISO 26000 desde a sua origem, em 2005, sabe da importância desse passo. Tanto pela representatividade global que adquiriu (são mais de 300 especialistas de 77 países) como pela força da ISO -International Organization for Standardization nas padronizações internacionais, a norma que busca afinar as definições de responsabilidade social e orientar a aplicação desses conceitos nas organizações já nasce com potencial para se tornar a principal referência mundial de responsabilidade social para empresas, governos e organizações da sociedade civil.

É exatamente por isso que ela tem provocado, ainda que nos bastidores, tanta polêmica. Ao tratar de praticamente todos os temas que envolvem o relacionamento das organizações (sejam elas empresas, governos, ONGs etc.) com os seus públicos, as discussões sobre o conteúdo da ISO 26000 nunca geraram consenso entre os participantes. A ponto de se decidir que a norma, ao contrário das demais da família ISO (como a 9000 ou a 14000), não seria certificável. Ou seja, que ela será apenas uma diretriz, uma orientação da responsabilidade social para as organizações, mas sem nenhum selo de certificação a ser conquistado.

(veja a íntegra em http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/923)

*Coluna publicada na Folha de S. Paulo, caderno Dinheiro, em 29 de julho

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Assim é, se lhe parece


Muitas vezes, aquilo que nos parece melhor em termos socioambientais nem sempre o é.

Vejam, por exemplo, o caso do papel reciclado. Um dia desses, ao comentar sobre um banco que acredito vem incorporando de maneira interessante princípios de responsabilidade socioambiental, uma amiga me retrucou: "Não acho, eles nem têm cheques com papel reciclado, como o bancod e fulano"

Em princípio - e para quase todo mundo - o reciclado parece ser mais "ecológico" do que o papel comum. Ocorre que nem sempre isso é verdade, me explicou ontem o querido Lineu Siqueira, da ONG Imaflora, uma das principais certificadoras do selo FSC (hoje a maior referência em certificação de produtos florestais no mundo).

O motivo é que o papel comum proveniente de florestas certificadas, segundo ele, tem muito mais garantias em termos de práticas sociais e ambientais corretas do que seus pares reciclados - que na maior parte dos casos não carrega certificação ou selo socioambiental.

"Na média, o papel produzido a partir de florestas plantadas com esse objetivo industrial, com o manejo e as condições de trabalho adequadas, são muito mais ecológicos que o papel reciclado. E mesmo no caso do reciclado, as pessoas deveriam observar a porcentagem de materiais realmente pós-consumo utilizada", defende Lineu.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Diesel: a versão da Petrobras

Ontem a Petrobras divulgou seu relatório social e ambiental de 2007. Foram R$ 534 milhões investidos em atividades sociais, esportivas e culturais ao longo do ano passado. Se somados os projetos de meio-ambiente, esse valor sobe para R$ 585 milhões.

Constava também do relatório social, o que é louvável, os questionamentos de setores da sociedade sobre o teor de enxofre do diesel produzido pela estatal. Em abril deste ano, uma ação movida no Conar pela Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo e por organizações como o Movimento Nossa São Paulo e Akatu, entre outros, levou à suspensão de dois anúncios que vinculavam a empresa à questão ambiental. A alegação era de que, com base no que seria uma demora excessiva da Petrobras em reduzir o teor de enxofre de seu diesel, ela não poderia usar esse marketing "ambiental".

O gerente de Responsabilidade Social da Petrobras, Luís Fernando Nery, gastou boa parte do tempo dedicado às entrevistas para falar sobre o assunto. Em sua opinião, o debate sobre o teor de enxofre no diesel tomou uma dimensão emocional, que não condiz com a complexidade do tema.

Sobre a demora da Petrobras em iniciar as pesquisas e a produção de diesel mais leve (com menor teor de enxofre), ele lembrou que a regulamentação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) do que seria a composição desse diesel(50 ppm) só saiu em outubro do ano passado. "Ninguém vai fabricar um medicamento ou montar uma fábrica para produzí-lo se não conhece sequer as especificações do produto, isso seria temerário do ponto de vista empresarial", explicou Nery. Foi por conta desse atraso na regulamentação, segundo ele, que a Petrobras só pode começar as unidades de tratamento para redução do teor de enxofre do diesel no final do ano passado.

Além disso, Nery defende que houve um grande equívoco sobre o fato de que o Conama teria decidido uma redução do teor de enxofre do diesel produzido pela Petrobras. O que o órgão que traça diretrizes para o meio-ambiente fez, segundo ele, foi determinar limites de "emissões" para determinados produtos. O que, no caso do diesel, não depende apenas da redução do teor de enxofre, mas também do motor do veículo e de sua regulagem, bem como da qualidade do combustível (sujeito a alterações) e da velocidade média no tráfego.

"Não há nada na resolução do Conama que estabeleça parâmetros de enxofre para o diesel, até porque não cabe a ele fazer isso. Dizer que o problema da emissão em São Paulo é só por causa do diesel é vilanizar o produto, é colocar uma visão simplista para um problema complexo", disse o executivo, acrescentando que, segundo pesquisas, um quarto da frota de veículos a diesel em São Paulo está desregulada, representando 80% da emissão.

De nada adiantará a redução do enxofre (de 2000 ppm para 50 ppm), acrescentou Nery, se o trânsito da capital paulista continuar travado como está - e piorando. Questinou, nesse sentido, porque a Secretaria do Meio Ambiente não antecipou a inspeção veicular (que começou este ano) em São Paulo, como fizeram outros estados. "É fácil atirar pedra nos outros. Essa questão tomou uma dimensão completamente emocional", criticou o gerente da Petrobras, atribuindo - sem citar nomes - motivações de diversas ordens para a ação no Conar, inclusive as de ordem "nitidamente políticas e de curtíssimo prazo".

Chegou até a citar o Ministério da Verdade, do livro 1984, de George Orwell, que transformava mentiras em verdades absolutas aos olhos da população. "O site do Movimento Nossa São Paulo coloca a decisão do Conar como uma decisão histórica, em que dois anúncios foram suspensos. Só que não falam que eram três anúncios, que um deles teve sua suspensão revogada e que os outros dois ainda sequer foram julgados, apesar da suspensão."

A Petrobras promete entregar o diesel de 50 ppm na capital paulista até janeiro deste ano, para os veículos com determinada motorização.

Não importa quem esteja com a razão, toda essa discussão traz um ensinamento importante: as empresas que adotam o tema socioambiental como parte de sua estratégia de negócios e de marketing serão cada vez mais cobradas a atuarem em linha com tais princípios. E quanto maior o apelo, maior o telhado de vidro.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Crédito SocioAmbiental




A partir da próxima terça-feira, dia 1º de julho, entra em vigor uma resolução do Banco Central que determina aos bancos públicos e privados restringirem a concessão de crédito rural apenas a produtores que estejam devidamente regularizados com os órgãos de fiscalização. Ainda que restrito à Amazônia Legal e de eficácia questionável, o documento deu fôlego a um debate que vem sendo travado há algum tempo no sistema financeiro no Brasil e no exterior: até que ponto os bancos são responsáveis pela avaliação dos riscos socioambientais de seus tomadores de crédito?

"Há pessoas que acreditam que os bancos são totalmente responsáveis pela avaliação socioambiental de seus clientes. Outras, que os bancos não têm responsabilidade alguma, pois isso caberia ao Estado. A resposta correta deve estar em algum lugar no meio do caminho", diz Christopher Wells, principal executivo da força-tarefa para América Latina da Unep-FI, braço do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas para o setor financeiro).

O debate tomou forma em 2002, quando o IFC (International Finance Corporation), braço financeiro do Banco Mundial, e um grupo de bancos privados lançaram os Princípios do Equador, que originalmente reuniam um conjunto de critérios de avaliação socioambiental que passariam a ser exigidos na concessão de créditos para empresas e projetos de infra-estrutura a partir de determinado valor. O objetivo: evitar o financiamento de empresas e obras potencialmente desastrosas para a sociedade e o ambiente.

Veja a íntegra da matéria em: http://www.amazonia.org.br/noticias/print.cfm?id=275032

Na corda bamba

Um interessante vídeo sobre em que pé estamos na questão dos recursos naturais x grau de consumo:

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Marina

Não há dúvida de que pegou mal, muito mal, o pedido de demissão da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, aparentemente por conta da delegação do Plano Amazônia Sustentável (PAS) para o ministro Mangabeira Ünger, de Assuntos Estratégicos.

Isso foi, na verdade, apenas a gota d'água. Há tempos a ministra vinha se queixando de que estava perdendo espaço e poder de atuação em diversas áreas que antes diziam respeito unicamente ao Ministério. Entre outras, tiveram destaque a questão das licenças ambientais pelo Ibama, dos transgênicos e também sua posição quanto à produção em massa do etanol.

É óbvio que o desenvolvimento de um País não pode ser travado por burocracias ambientais exageradas ou, em muitos casos, inúteis. Mas é importante que a discussão interna no governo não seja homogênea.

O contraste de idéias e a discussão são sempre bem vindos. Algo com o qual, infelizmente, o governo Lula ainda não aprendeu a lidar.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Blog da Paz

Recebi esse mail há algumas semanas, bem interessante:


"O “homem da esperança” e o “homem da paz”. Assim se intitulam, respectivamente, um chefe de família da cidade israelense de Sderot, que foi atingida há algum tempo por mísseis disparados pela facção fundamentalista Hamas, e um estudante palestino da aldeia de Sajaia, na Faixa de Gaza.

Sem revelar seus nomes, por questões de segurança, os dois vêm mantendo há um mês o blog www.gaza-sderot.blogspot.com, no qual discutem seus medos e a esperança de um futuro pacífico.

O israelense, pai de três filhos, conta que as crianças vivem assustados com a ameaça de foguetes. Já o estudante palestino teve que abandonar seu Mestrado no exterior, por conta da situação instável em Gaza. Embora não se conheçam, os dois vivem a apenas 15Km de distância.

O blog, que já se tornou sucesso entre as duas comunidades e também no exterior, foi criado pela ONG Centro para um Futuro Emergente."

terça-feira, 22 de abril de 2008

Um longo caminho

Pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios mostra que a divulgação do Código de Ética das empresas para a sociedade ainda é uma cultura incipiente no país.

Das 500 maiores empresas brasileiras, apenas 148 (quase 30%) possuem e divulgam seu Código de Ética no próprio site. Das 352 restantes, 105 o fazem, por serem de capital estrangeiro, no site global da companhia (das quais somente 15 com traduções para outros idiomas, entre eles o português).

Significa que, se um cidadão brasileiro sem fluência em inglês quiser conhecer a orientação de condutas e práticas de uma empresa local, só conseguirá encontrá-la em 163 empresas (das quais 15 encontrando a versão taduzida em sites estrangeiros). É muito pouco, considerando-se que são as 500 "maiores" empresas do Brasil.

Abaixo disso, a coisa deve piorar ainda mais.

Outro dado interessante da pesquisa é a fraca disposição das empresas para mostrar no site o balanço das atividades sociais, ainda que o tema faça parte das preocupações de qualquer diretor de marketing minimamente sensato hoje em dia. Me lembrou uma coluna que fiz no ano passado, mostrando como as empresas não estavam preparadas para divulgar suas ações sociais (www.fenacon.org.br/pressclipping/2007/outubro/folha/folha301007.htm ) - coloquei esse link, pois a leitura é fechada para assinantes da Folha e do UOL.

Segue também o link para a pesquisa sobre o Código de Ética, que traz ainda bons artigos de especialistas e representantes do terceiro setor:

http://etica4.tempsite.ws/images/pesquisa_codigo_etica_2008.pdf

domingo, 20 de abril de 2008

Mau exemplo

Vocês já devem ter ouvido falar: o governo chinês "ordenou" que diversas empresas de Pequim e outras cidades reduzissem o ritmo de produção, de forma a garantir o ar limpo durante as provas olímpicas.

Limpo não, respirável para os atletas, especialmente para provas mais aeróbicas como as de corrida e de ciclismo.

A pergunta é: o ar que não serve para um atleta serve para um cidadão?

É isso que o governo chinês está admitindo, ainda que indiretamente: ok, temos um ar tão poluído que são necessárias medidas drásticas para torná-lo melhor. Mas, quando os jogos passarem, tudo volta ao normal, inclusive a poluição.

Fico sempre com um pé atrás quando as pessoas dizem que a China é o pior exemplo de desenvolvimento sustentável do planeta. Fatos como esse, no entanto, só reforçam essa percepção. E justo na Olimpíada, que está sendo preparada para ser a grande apresentação extra-econômica do país para o mundo ocidental.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Plágio na Academia?

Recebi hoje do geógrafo Rogério Jorge, da USP, uma denúncia de plágio de seu trabalho. Segue abaixo o texto escrito pelo próprio geógrafo. Os documentos que ele enviou em anexo (que não posto aqui apenas por ficar muito extenso) realmente apontam para um plágio. Tentarei checar com a outra parte envolvida.


"A história é mais ou menos assim: quem detectou a duplicidade, dia 31 de março, foi o estudante de geografia Marcos Nicolau Santos Silva, da Universidade Estadual de Viçosa. Há algumas semanas nos correspondíamos, já que ele entendia que seu TCC tinha algumas semelhanças com minha dissertação de mestrado. Então, nesse dia, ele me contou que seguia sua pesquisa e utilizava algumas palavras-chave no Google, quando se deparou com um texto muito parecido com o meu...

Daí em diante, tenho denunciado o larápio dessa forma:

O artigo "O Papel do Território como Estratégia de Desenvolvimento de Regiões Rurais", publicado em 2007, nas revistas Campo - Território da Universidade Federal de Uberlândia (vol. 2, nº 4) e Espaço & Tempo da Universidade de Brasília (vol. 10, nº 1), são de minha autoria e não de Freed Vieira Ribeiro. Este senhor se apresenta como mestrando em geografia pela Universidade Federal de Goiás, mas na verdade é um batedor de carteiras ordinário, que já foi flagrado em outra ocasião, cometendo o mesmo delito. Daquela vez, subtraiu o trabalho do professor Marcelo Rodrigues Mendonça, da UFG – Campus Catalão.

O texto que reclamo a autoria foi baseado em minha dissertação de mestrado, defendida em junho de 2003, junto ao Programa de Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo, orientada pelo professor José Eli da Veiga e publicado originalmente na Revista do Centro de Ciências Administrativas da Universidade de Fortaleza (vol. 9, nº 2, dezembro de 2003). Além desta evidência, tenho diversas outras provas incontestes que estou sendo lesado por esta pessoa, vide: meu Currículo Lattes, Biblioteca Digital de Teses USP e o fato de grande parte da pesquisa de campo ter sido feita no sul da França no ano de 2002.

Os textos que causam minha indignação estão anexados e podem, eventualmente, ser comparados ao meu. Reitero que eles foram publicados sem minha autorização e não parecem configurar plágio, mas diretamente mudança de autoria, além de mutilação de alguns parágrafos. Também é interessante notar que o erro em inglês que cometi no título do abstract permaneceu intocado."

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Livros

Três indicações de leitura (sempre preciosas) do prof. José Eli da Veiga, publicadas hoje no jornal Valor Econômico. Segue também abaixo um pedaço do texto, que em breve poderá ser encontrado no http://www.zeeli.pro.br/

“Ethics and the Environment" - Dale Jamieson.
Cambridge Univ. Press, 221 págs.

"Ethics and Business" - Kevin Gibson.
Cambridge Univ. Press, 255 págs.

"The Ethics of Climate Change" - James Garvey.
Continuum, 179 págs.

Idéias quentes para uma ética ambiental
Por José Eli da Veiga, para o Valor, de Cambridge

"Esses três recentes e utilíssimos lançamentos de duas editoras britânicas têm muita coisa em comum, embora sejam dirigidos a segmentos bem diferentes de leitores. São textos de filosofia moral,escritos por profissionais do ramo, e sobre o mais crucial cacho de desafios do século XXI: os socioambientais. Além disso, são irrelevantes as diferenças de abordagem teórica, embora seja imensa a diferença de estilo entre os dois primeiros e o terceiro. Os professores Dale Jamieson, da universidade de New York, e KevinGibson, da católica Marquette (Wisconsin), sistematizaram seus cursos em amplas introduções às éticas ambiental e empresarial. Já a aposta do secretário do Royal Institute of Philosophy, JamesGarvey, foi bem mais arriscada: dizer sem rodeios o que considera certo e errado em um mundo em aquecimento ("Right and wrong in a warming world" é o subtítulo).

Impossível exagerar a importância dessa trinca, pois os desafios colocados pela emergência socioambiental são antes de tudo éticos.No que se refere às empresas, é até desnecessário argumentar, pois basta pensar um pouco no termo escolhido para essa dimensão: "responsabilidade". Mas não é muito freqüente que o mesmo seja assumido por cientistas sociais, com destaque, é claro, para os economistas. Tendem a transmitir a ilusão de que os graves problemas socioambientais deste século poderiam ser razoavelmente analisados no âmbito de suas disciplinas, sem necessidade de abordar questões prévias e bem mais abstratas sobre o modo com que a espécie humana lida com todo o restante da natureza.Exemplo bem recente acaba de ser oferecido por Jeffrey D. Sachs, ao afirmar que "o controle climático não é um jogo moral, mas um desafio tecnológico prático e solucionável" ("Scientific AmericanBrasil", abril 2008, pág. 28)." (...)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Viés

Vejam só como uma mesma informação pode ser enviesada.

Recebi há pouco um release de imprensa da AES Eletropaulo, a distribuidora de energia elétrica da região metropolitana de São Paulo, com o seguinte texto:


AES ELETROPAULO INSTALA AQUECEDOR SOLAR EM FAVELAS

Projeto tem como objetivo auxiliar na redução de até 50% da conta de energia elétrica dos clientes com baixo padrão aquisitivo e com consumo elevado que tiveram as ligações legalizadas

"A AES Eletropaulo, distribuidora que atende 24 municípios da Região Metropolitana de São Paulo - incluindo a Capital -, inicia neste mês de abril a instalação de equipamentos de energia solar nas comunidades de baixa renda que tiveram as ligações clandestinas legalizadas. Inicialmente, será realizado um teste piloto em 20 casas da favela de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, a fim de se ganhar conhecimento e experiência no desenvolvimento da solução para posterior decisão de expansão nas áreas regularizadas. A primeira instalação do aquecedor solar foi concluída na sexta-feira passada, dia 4 de abril, e as outras serão finalizadas até o fim deste mês.

"Após seis meses de testes em Paraisópolis, esperamos chegar junto com nossos fornecedores a um resultado concreto de solução para aquecimento solar adaptado às condições de urbanização de nossas favelas. Esses imóveis possuem peculiaridades de construção e seria bastante oneroso e complexo instalar um equipamento padrão de energia solar nestes locais", explica o gerente de Recuperação de Mercado da AES Eletropaulo, José Cavaretti. Até o fim de 2010, a distribuidora espera instalar dez mil equipamentos de energia solar em favelas e conjuntos habitacionais, com investimento previsto de mais de R$ 15 milhões. (...)"


Ok. Tudo muito bom, uma companhia responsável, não fosse um detalhe: o que de fato motivou a Eletropaulo a adotar esse procedimento foi a tentativa de reduzir o elevado índice de ligações clandestinas nessas regiões, conhecidos como "gatos", e também reduzir o elevado índice de inadimplência dessa camada mais pobre da população (uma informação que até aparece no release, mas escondidinha, quase no final do texto). Ou seja, uma ação puramente comercial.

A questão aqui não é a Eletropaulo, que tem lá seus problemas mas é uma companhia séria. O problema é essa utilização excessiva da responsabilidade socioambiental em ações de caráter exclusivamente comerciais ou negociais das empresas. Há um notável exagero nesse sentido.

Uma coisa é a louvável - e necessária - convergência desses conceitos de responsabilidade para os negócios da empresa. Outra, totalmente diferente, é aproveitar algum mote social ou ambiental para utilizá-lo como se fosse ele o responsável por determinada ação.

É preciso ficar atento!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Aprenda e pratique

Temos hoje um aliado importante na educação socioambiental: a tecnologia.

Recebi nos últimos dias dois interessantes - e simples - mecanismos de aprendizado ambiental. Um é uma calculadora de sua emissão "pessoal de CO2" na atmosfera a partir de seus hábitos de consumo. Outro, mais voltado para o público infantil, é um jogo onde ganha quem consegue tornar a casa mais eficiente (energia, lixo, etc.)

Vale a pena experimentar:

Calculadora de CO2
www.climaeconsumo.org.br

Jogo da Casa
http://www.wwf.org.br/_casaeficiente

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Artigo

Segue um interessante artigo publicado no Correio da Cidadania, de autoria do Danilo Di Giorgi (confira a íntegra do texto no link abaixo)

"Um dos maiores problemas da sociedade contemporânea mostrou sua cara feia em meados de março na cidade de São Paulo, quando conseguimos bater todos os recordes históricos de congestionamento nas ruas e avenidas da metrópole. Durante quatro dias, as marcas foram sendo sucessivamente superadas, até chegarmos no dia 13 de março a incríveis 221 quilômetros de vias travadas.

Nas semanas seguintes, pipocaram nos meios de comunicação opiniões de especialistas propondo soluções: pedágios urbanos, melhoria da rede de transporte público e ampliação do rodízio foram algumas das principais idéias. Sabemos que, apesar de serem soluções de aplicação necessária a curto prazo, são apenas paliativas, pois temos exemplos de cidades européias onde todas as propostas acima citadas foram adotadas e o crescimento do número de veículos em circulação continua provocando o entupimento crescente das ruas.

Uma análise estratégica de longo prazo mostra que o problema está basicamente no excesso do número de carros em circulação (somente na capital paulista, a cada dia são emplacados quase mil novos veículos). A idéia ganhou força para mim depois que li a edição da revista Exame do dia 20 de março e percebi a grande preocupação dos responsáveis pela publicação em desmentir esta tese."

www.correiocidadania.com.br/content/view/1641/57

Oportunismo?

O caso ainda nem está bem resolvido e já criaram uma ONG para a mãe da menina Isabella, cuja violenta morte chocou o País. A proposta da ONG, segundo a imprensa, é combater a violência infantil.

Sei não...

Isso tem uma cara de oportunismo que, a meu ver, só prejudica a imagem que as ONGs têm hoje na sociedade - imagem essa, é bom lembrar, já afetada pelo infeliz nome de batismo da CPI das ONGs.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Impressões

Das diversas palestras e conversas que pude assistir aqui no 5º Congresso GIFE, em Salvador, pude tirar algumas impressões sobre os debates que hoje estão no foco do chamado terceiro setor, sobretudo do ponto de vista das fundações e institutos ligados às empresas, que são o principal público do GIFE.

Há no ar um questionamento quase existencialista sobre o atual estágio de desenvolvimento das organizações e sobre quais são, afinal, os seus limites de atuação nas diversas áreas. "Quem somos e para onde vamos" seria uma frase quase perfeita para resumir os debates que ocorreram nesse encontro realizado na capital baiana.

Um exemplo interessante é o do marco regulatório. Há consenso de que ele é ultrapassado (basicamente calcado na regulamentação das organizações de Utilidade Pública Federal, de 1935!!), uma verdadeira "colcha de retalhos dos mais díspares", como definiu ontem Ruth Cardoso, e que não representa adequadamente o peso que as organizações da sociedade civil assumiram nas duas últimas décadas.

O consenso, no entanto, para por aqui. O setor é hoje tão complexo e heterogêneo, com tantas entidades representativas, que uma convergência real dos interesses para uma proposta unificada de legislação parece, em princípio, impossível.

Ao mesmo tempo, há uma pressão nesse sentido oriunda da CPI das ONGs. O medo de que possíveis alterações debatidas unicamente no Congresso - e boa parte das propostas isoladas vindas de lá é de restringir a flexibilidade das ONGs e demais organizações - seja pior do que o que temos hoje é visível entre representantes do setor.

A necessidade de maior organização e convergência, nesse ambiente, torna-se questão de sobrevivência.

A relação das entidades com o setor público é outro foco interessante. Ouvi muitas queixas de que o governo está restringindo de maneira importante a liberdade de atuação das organizações, apoiando e financiando cada vez mais apenas aquelas que tenham alguma identidade com as ações e linhas de pensamento do próprio governo. As organizações deixam, assim, de serem "parceiras" para se tornarem meras "executoras" dos projetos. E pior, a CPI das ONGs, de novo, parece ter dado força a setores dentro do governo para reforçar a hostilidade contra a independência e a flexibilidade das organizações da sociedade civil. A conferir...

Outro debate que percebi nitidamente é o relacionado aos conceitos utilizados no terceiro setor. Além de uma baita confusão sobre o que define exatamente cada um deles, sobretudo após a explosão do tema "sustentabilidade" na publicidade, há questionamentos importantes sobre os investimentos sociais privados feitos exclusivamente por meio de benefícios fiscais - em muitos casos, as empresas não botam um centavo no projeto, mas utilizam o marketing a ele relacionado em favor de sua marca. "Poxa, o Cirque du Soleil foi totalmente bancado por recursos públicos!", espetava ontem um conhecido representante de um instituto.

Tal exemplo suscita a pergunta: é legal, ok, mas é moral?

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Juventude na mira

Existe hoje uma concentração do investimento social privado no segmento jovem da população, mostra pesquisa realizada pelo Ibope em parceria com o Gife e o Instituto ibi.

Segundo a pesquisa, cerca de 70% dos associados do Gife ouvidos no Censo 2007-2008 apóiam direta ou indiretamente projetos exclusivamente dedicados aos jovens, a maior parte no segmento de educação e formação profissional desse público.

"O que um jovem quer a partir dos 14 anos? Trabalhar e ganhar algum sustento", resume Fernando Rossetti, do GIFE.

Há poucos projetos ligados ao tratamento de problemas com álcool e drogas. O que é bom, avalia Rossetti, pois revela uma maior preocupação em tratar as causas (falta de formação educacional e profissional) desses problemas do que seus efeitos.

A pesquisa também revela que o complexo trabalho de acompanhamento de cada indivíduo após deixar o projeto é, hoje, praticamente inexistente.

Capitalismo 3.0


Conceitos da WEB 2.0 aplicados às estruturas do sistema capitalista?

Sim, o mundo está mudando velozmente. E o autor norte-americano Peter Barnes resumiu isso em um livro imperdível para quem tenta entender um pouco essas mudanças.

O livro (uma valiosa dica do prof. José Eli da Veiga) pode ser baixado na íntegra no site: http://www.capitalism3.com/

Mortalidade incontável





O número de ONGs no Brasil não para de crescer, certo?

Certo, mas em termos.

Ao contrário das empresas, que quando morrem precisam de formalidades legais de encerramento de suas atividades (por questões tributárias, principalmente), muitas das ONGs que já não existem mais continuam registradas como se ainda existissem.

Não há, por conta disso, qualquer índice confiável de mortalidade das ONGs no Brasil.

Sabe-se apenas que ele é alto.

Os sete perfis do doador

A doação média de cada pessoa para fins sociais no interior paulista é de R$ 388 por ano, mostra pesquisa do IDIS divulgada hoje pelo seu presidente, Marcos Kisil.

A pesquisa traça um interessante perfil do doador nessa região. A maioria é do sexo feminino, não fez faculdade e tem em média 40 anos de idade. O grosso das doações ainda vai para a Igreja, mas as organizações sociais estão cada vez mais nesse radar do dinheiro.

A partir dessa pesquisa, Kissil definiu sete arquétipos do doador brasileiro:

O Devoto é aquele que doa porque Deus quis assim. O Comunitário acredita ter um papel de melhora na sociedade. O Retribuidor doa porque foi beneficiado em algum momento de sua vida pela entidade/organização que agora pode ajudar. O Herdeiro doa por uma tradição de família. O Socialite gosta mais do evento do que da ação social em si. O Altruísta se sente bem ao doar. E o Investidor é aquele que se preocupa com o impacto gerado pela doação, bem como a eficiência desses recursos.

Segundo Kisil, esse último é o que mais faz falta. E deve servir como um modelo para os demais.

Avaliação pobre

As empresas não costumam avaliar com a devida atenção a operação e os resultados de seus investimentos na área social e ambiental.

E o que é mais interessante: ao contrário do que se imaginava, essa falha na avaliação não depende do porte das empresas. As grandes avaliam - ou não - tão mal quanto as pequenas.

É o que mostra uma pesquisa divulgada hoje por Ana Maria Peliano, do IPEA, aqui no Congresso do GIFE, em Salvador.

Empresas investem R$ 1,15 bi no social



O investimento social realizado pelas maiores empresas brasileiras chegou a R$ 1,15 bilhão em 2007, mostram os dados preliminares do Censo 2007-2008 divulgados ontem pelo GIFE. O levantamento, um dos mais importantes do chamado terceiro setor, refere-se aos investimentos em projetos sociais e ambientais realizados diretamente pelas empresas ou por meio de suas fundações e institutos, num universo de 101 associados ao GIFE.

Os números parecem não acompanhar a verdadeira explosão do chamado "marketing social" dos últimos anos, especialmente em 2007. No censo anterior, referente a 2005, o volume de investimentos sociais das empresas foi de R$ 1 bilhão para um universo de 89 participantes. "Realmente não houve uma alteração significativa no volume do investimento social privado, cujo aumento parece refletir mais um crescimento orgânico dos próprios associados", comentou o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti.

O que pode explicar esse aparente contraste, segundo ele, é a tendência de as empresas focarem cada vez mais os seus investimentos sociais em ações internas, por exemplo, em relação aos próprios funcionários ou à comunidade em torno das instalações, em boa parte dos casos associadas à gestão da marca. Em resumo, ações de caráter ético voltadas ao próprio negócio, que se encaixam no conceito de responsabilidade social empresarial, e não de investimento social privado.

"Me parece que boa parte dos recursos que antes eram destinados para o interesse público, dentro do conceito de investimento social privado, hoje estão concentrados nos investimentos ligados à responsabilidade empresarial. Como ambos estão sob o guarda-chuva de um conceito maior, que é o da sustentabilidade, pode dar a impressão de que as empresas não estão investindo mais do que antes", explicou Rossetti.

Os dados do Censo GIFE 2007-2008 apontam ainda uma concentração expressiva dos investimentos sociais das empresas em projetos de educação e formação profissional, sobretudo na faixa jovem da população. Os projetos de educação, no topo da lista, recebem investimentos de 83% dos associados consultados na pesquisa. O item "Formação para o trabalho" aparece em segundo lugar, com investimentos de 59% dos participantes.

"Há um grande foco hoje na educação, para o trabalho e para a geração de renda, o que mostra uma convergência do investimento social privado com as grandes políticas nacionais do governo", avaliou o secretário-geral do GIFE, lembrando que nos primeiros anos da gestão FHC, que segundo ele teve um enfoque maior na educação fundamental, esse investimento social também estava concentrado nas crianças.

O investimento das empresas em cultura e arte também foi destaque no ano passado, assim como em anos anteriores, com 55% das empresas atuando de alguma forma no segmento. Só que por outro motivo: os incentivos originados pela Lei Rouanet e pela Lei do Audiovisual, que prevêem benefícios fiscais para os recursos destinados pelas empresas para projetos do setor. "A Lei Rouanet é de longe a mais utilizada pelas empresas, pois é o instrumento que sabem melhor utilizar."