terça-feira, 27 de abril de 2010

Brasil sai da rota do investimento no 3º setor

A consolidação do Brasil como economia emergente em rota acelerada de expansão e os efeitos da crise financeira nos países desenvolvidos, sobretudo os europeus, vêm reduzindo drasticamente o fluxo de recursos de organizações internacionais a projetos sociais no país.
 
Pesquisa realizada pelo Instituto Fonte a partir de uma amostra com 41 organizações estrangeiras com atuação no Brasil revela que essa queda pode chegar a quase 50% neste ano em comparação com 2009.

Os motivos? A crise financeira global, a mudança de prioridade para outras regiões do planeta, com destaque para a África, e a mudança de estratégia das organizações. A pesquisa revela ainda que cerca de 15% das organizações internacionais já preveem uma retirada completa de seus investimentos no Brasil até 2015.

Aos motivos acima acrescente-se para esse item o "alto desenvolvimento socioeconômico brasileiro" e a "crescente capacidade de captação de recursos internos".

"É preciso ter cuidado com a afirmação de que esse panorama de queda nos recursos caracteriza um movimento estratégico da cooperação internacional, uma tendência efetiva, pois o impacto da crise global certamente tem um peso importante nesse contexto", pondera o coordenador do Instituto Fonte, Arnaldo Motta.

"Por outro lado, existem elementos da pesquisa que reforçam a percepção de uma mudança estrutural, entre eles a prioridade crescente da destinação de recursos para o continente africano e a visão externa de que o Brasil é um país cada vez mais rico e desenvolvido."

Há também um elemento novo: a destinação de recursos a projetos sociais em regiões que não enfrentavam problemas. Uma realidade cada vez mais explícita, por exemplo, no continente europeu, onde diversos países ainda enfrentam dificuldades no processo de recuperação econômica.

"Se antes tínhamos 100% dos recursos de projetos sociais aportados nos países em desenvolvimento, hoje parte desses recursos começa a priorizar problemas internos, que estão surgindo na esteira da crise, por exemplo os relacionados às altas taxas de desemprego ou à imigração", aponta um dos coordenadores da fundação italiana AVSI no Brasil, Gianfranco Commodaro.

No caso do Brasil, a percepção crescente é a de "uma mudança efetiva no padrão econômico e de renda, uma realidade que passa a ser considerada nas análises de destinação dos recursos das grandes fundações internacionais", completa Commodaro, lembrando que hoje o próprio setor público brasileiro atua socialmente em outras regiões do mundo, como Moçambique e Angola. Inclusive com aportes financeiros.

Leia a íntegra da coluna publicada na Folha em:

http://www.geledes.org.br/noticias/brasil-sai-da-rota-do-investimento-no-3o-setor.html

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Lobbies e lobbies

Ótimo texto do Greenpeace:

"Washington — Indústrias Koch agem longe dos olhos do público e, por baixo dos panos, financiam os argumentos falsos de quem nega o aquecimento global. Uma empresa pouco conhecida, mas com bastante trabalho, passou a ExxonMobil no quesito financiamento dos céticos do clima de acordo com um levantamento realizado pelo Greenpeace. As Indústrias Koch, com sede nos Estados Unidos, têm o petróleo no centro de seus negócios, produziram o 19º homem mais rico do mundo e carregam um passivo ambiental imenso, que tentam esconder de todos os jeitos.


O relatório do Greenpeace, “Indústrias Koch: financiando secretamente os céticos do clima”, detalha como a empresa multinacional tem um papel dominante no discurso negacionista do aquecimento global nos Estados Unidos. Ela gasta milhões de dólares na promoção de céticos e seus institutos lobbistas e na oposição ao avanço de tecnologias limpas de geração de energia. “Está na hora de as Indústrias Koch limparem o jogo e deixarem de lado sua campanha suja e feita por baixo dos panos contra as ações de controle das mudanças climáticas”, afirma Kert Davies, diretor de pesquisa do Greenpeace dos Estados Unidos.

A Koch financiou (entre outros exemplos):

- Vinte organizações especializadas em negar o aquecimento global, que ecoaram a quatro cantos o Climagate, caso em que e-mails de cientistas da Universidade de East Anglia foram hackeados, no fim do ano passado. Essas organizações afirmam que as mensagens mostram que a ciência do clima é pouco confiável e ignoram a avaliação de grupos independentes que falam o contrário;

- Um artigo pseudocientífico de 2007, em conjunto com a ExxonMobil e o Instituto Americano do Petróleo, que tenta refutar a ciência que mostra como os ursos polares são ameaçados de extinção por causa do aquecimento global;

- Um grupo dinamarquês que produziu um estudo contrário à indústria de energia eólica da Dinamarca. Esse material foi usado nos Estados Unidos para rebater o apoio do presidente Barack Obama a energias renováveis. Neste ano, o ministro do Meio Ambiente da Dinamarca rejeitou os resultados do documento;

- Grupos que apóiam e promovem uma antiga e já refutada análise, que liga a indústria de energias renováveis ao desemprego na Espanha. Entre eles, destaca-se um chamado Americanos pela Prosperidade, fundado e dirigido por David Koch. Hoje, esse grupo está em campanha aberta contra o projeto de lei voltado a energias limpas de Obama, em discussão no Congresso americano.

“Ao gastar milhões de dólares no lobby e em financiamento a candidatos, Charles e David Koch poluem não apenas o ambiente mas também o processo político americano, trabalhando para impedir a aprovação da lei de energia limpa e clima por meio de um lobby corporativo intenso e financiamento de céticos”, diz Davies. “Esse processo tem como objetivo atrapalhar o avanço das negociações internacionais em torno de uma política de controle das mudanças climáticas, com o enfraquecimento da legislação americana no centro dessa estratégia.”

As Indústrias Koch são um conglomerado de US$ 100 bilhões, dominado por negócios em petroquímica, que operam em cerca de 60 países, com 70 mil funcionários. A maioria das operações é invisível ao público, com exceção de algumas poucas marcas, como Lycra® e Cordura®. No Brasil o grupo Koch está presente na forma de quatro empresas, “Georgia Pacific”, “Koch mineral services”, “Koch chemical technology group” e “Invista”.

“As empresas e funcionários do grupo Koch no Brasil tem a obrigação moral de exigir explicações e mudanças das atitudes de seus pares norte-americanos”, diz João Talocchi, coordenador da campanha de clima do Greenpeace Brasil. “No site das empresas existem diversas referências ao uso da boa ciência, responsabilidade socioambiental e criação de valores. Ao atacar a ciência e legislação sobre mudanças do clima, eles só aumentam o buraco entre o discurso e a realidade”, complementa Talocchi.

Parte da influência da Koch é centrada em três fundações, também controladas por David e Charles Koch. No financiamento de campanhas de céticos, a ExxonMobil gastou cerca de US$ 9 milhões entre 2005 e 2008. No mesmo período, as fundações controladas pelas Indústrias Koch gastaram cerca de US$ 25 milhões. Entre os grupos financiados, estão velhos centros de negação da ciência do clima, entre eles o Mercatus Center, a Fundação Heritage, o Instituto Cato, a Fundação Legal de Washington e a Fundação para Pesquisa de Economia e Ambiente (Free, na sigla em inglês)."

Bancos exigem mais critérios socioambientais

Coluna de volta!

Segue a íntegra do texto publicado na última terça-feira, 30, na Folha de S. Paulo:

"A iminência de regulamentações ambientais cada vez mais rigorosas e a acirrada concorrência do setor estão levando os bancos a ampliarem a incorporação de critérios socioambientais na análise de crédito para as empresas. A tendência, segundo bancos e especialistas ouvidos pela Folha, é que tais critérios passem a ser incluídos também no pedido de empréstimos de baixo valor, uma prática ainda rara no Brasil.

Na maior parte dos casos, a inclusão de critérios socioambientais se restringe a valores elevados de financiamento ou a setores específicos, como a agropecuária. Os Princípios do Equador, por exemplo, que estabelecem diretrizes de crédito sociais e ambientais para instituições financeiras, definem uma
linha de corte de US$ 10 milhões para a inclusão de tais critérios no financiamento de projetos de infraestrutura.

Na prática, isso permite que empresas ou projetos considerados irresponsáveis do ponto de vista socioambiental (que utilizem trabalho infantil ou incentivem o desmatamento em áreas protegidas, por exemplo) tomem crédito bancário sem maiores complicações, desde que não enfrentem problemas jurídicos -realidade comum, num país onde boa parte dos órgãos públicos de fiscalização enfrenta problemas de estrutura e de recursos.

Mais do que preocupação com o planeta, a movimentação dos bancos reflete uma apreensão com o futuro de seu próprio negócio, já que os riscos socioambientais aparecem com um potencial de estrago também sobre as instituições. (...)"


http://www1.folha.uol.com.br/folha/empreendedorsocial/ult10130u714140.shtml