segunda-feira, 3 de maio de 2010

Melhor seria...

A briga entre ruralistas e ambientalistas em torno de possíveis alterações no Código Florestal brasileiro promete esquentar. Ao menos essa é a impressão que fica para quem participou hoje de um interessante workshop para jornalistas sobre o assunto, promovido pelas três maiores organizações que trabalham com meio-ambiente no Brasil: SOS Mata Atlântica, WWF e Greenpeace.

Agora essa briga envolve também disputa científica. De um lado, os ruralistas empunham um estudo da Embrapa mostrando que a aplicação prática do Código, no que diz respeito às áreas obrigatórias de Reserva Legal, praticamente inviabilizaria a expansão e a própria sobrevivência da agricultura no País. De outro, diversos estudos mostrando exatamente o contrário: há áreas de sobra para a expansão da produção agrícola, inclusive sem a necessidade de desmatar o que já é permitido por lei.

Hoje o professor Gerd Sparovek, da Esalq-USP, apresentou um estudo que promete pesar a balança em favor do segundo grupo. A partir do possivelmente mais completo levantamento já realizado sobre APPs, Unidades de Conservação/Terras Indígenas e Reservas Legais no Brasil, com os devidos cuidados para se evitar dupla contagem, o estudo mostra que a aplicação do Código Florestal deixa livres mais de 100 milhões de hectares para serem desmatados.

Como o impacto ambiental disso é enorme, o estudo mostra ainda que a simples expansão agrícola sobre áreas extensivas de pastagem liberaria algo como toda a área plantada hoje em território nacional, em torno de 60 milhões de hectares. Ou seja, mais do que dobraria a capacidade de expansão da agricultura. O artigo será publicado brevemente em revista científica renomada.

Nessa discussão apaixonada, que como bem lembrou hoje uma participante do evento está mais para debate futebolístico do que qualquer outra coisa, quanto mais ciência envolvida, maior o nível do debate. E maior o conjunto de ferramentas da sociedade para tomar decisões. Isso vale para os dois lados: ruralistas e ambientalistas.

Resta saber se esse debate científico será levado nas discussões sobre o Código que tomam forma no Congresso. Muitos têm sérias dúvidas quanto a isso.

Como lembrou Paulo Adário, do Greenpeace, melhor seria se os ruralistas enxergassem os ambientalistas como parceiros. Parceiros para o avanço de seu próprio negócio, dado um mundo em que barreiras comerciais relacionadas a métodos de produção e cultivo serão cada vez mais comuns.