quarta-feira, 9 de abril de 2008

Viés

Vejam só como uma mesma informação pode ser enviesada.

Recebi há pouco um release de imprensa da AES Eletropaulo, a distribuidora de energia elétrica da região metropolitana de São Paulo, com o seguinte texto:


AES ELETROPAULO INSTALA AQUECEDOR SOLAR EM FAVELAS

Projeto tem como objetivo auxiliar na redução de até 50% da conta de energia elétrica dos clientes com baixo padrão aquisitivo e com consumo elevado que tiveram as ligações legalizadas

"A AES Eletropaulo, distribuidora que atende 24 municípios da Região Metropolitana de São Paulo - incluindo a Capital -, inicia neste mês de abril a instalação de equipamentos de energia solar nas comunidades de baixa renda que tiveram as ligações clandestinas legalizadas. Inicialmente, será realizado um teste piloto em 20 casas da favela de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, a fim de se ganhar conhecimento e experiência no desenvolvimento da solução para posterior decisão de expansão nas áreas regularizadas. A primeira instalação do aquecedor solar foi concluída na sexta-feira passada, dia 4 de abril, e as outras serão finalizadas até o fim deste mês.

"Após seis meses de testes em Paraisópolis, esperamos chegar junto com nossos fornecedores a um resultado concreto de solução para aquecimento solar adaptado às condições de urbanização de nossas favelas. Esses imóveis possuem peculiaridades de construção e seria bastante oneroso e complexo instalar um equipamento padrão de energia solar nestes locais", explica o gerente de Recuperação de Mercado da AES Eletropaulo, José Cavaretti. Até o fim de 2010, a distribuidora espera instalar dez mil equipamentos de energia solar em favelas e conjuntos habitacionais, com investimento previsto de mais de R$ 15 milhões. (...)"


Ok. Tudo muito bom, uma companhia responsável, não fosse um detalhe: o que de fato motivou a Eletropaulo a adotar esse procedimento foi a tentativa de reduzir o elevado índice de ligações clandestinas nessas regiões, conhecidos como "gatos", e também reduzir o elevado índice de inadimplência dessa camada mais pobre da população (uma informação que até aparece no release, mas escondidinha, quase no final do texto). Ou seja, uma ação puramente comercial.

A questão aqui não é a Eletropaulo, que tem lá seus problemas mas é uma companhia séria. O problema é essa utilização excessiva da responsabilidade socioambiental em ações de caráter exclusivamente comerciais ou negociais das empresas. Há um notável exagero nesse sentido.

Uma coisa é a louvável - e necessária - convergência desses conceitos de responsabilidade para os negócios da empresa. Outra, totalmente diferente, é aproveitar algum mote social ou ambiental para utilizá-lo como se fosse ele o responsável por determinada ação.

É preciso ficar atento!