terça-feira, 29 de abril de 2008

Blog da Paz

Recebi esse mail há algumas semanas, bem interessante:


"O “homem da esperança” e o “homem da paz”. Assim se intitulam, respectivamente, um chefe de família da cidade israelense de Sderot, que foi atingida há algum tempo por mísseis disparados pela facção fundamentalista Hamas, e um estudante palestino da aldeia de Sajaia, na Faixa de Gaza.

Sem revelar seus nomes, por questões de segurança, os dois vêm mantendo há um mês o blog www.gaza-sderot.blogspot.com, no qual discutem seus medos e a esperança de um futuro pacífico.

O israelense, pai de três filhos, conta que as crianças vivem assustados com a ameaça de foguetes. Já o estudante palestino teve que abandonar seu Mestrado no exterior, por conta da situação instável em Gaza. Embora não se conheçam, os dois vivem a apenas 15Km de distância.

O blog, que já se tornou sucesso entre as duas comunidades e também no exterior, foi criado pela ONG Centro para um Futuro Emergente."

terça-feira, 22 de abril de 2008

Um longo caminho

Pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios mostra que a divulgação do Código de Ética das empresas para a sociedade ainda é uma cultura incipiente no país.

Das 500 maiores empresas brasileiras, apenas 148 (quase 30%) possuem e divulgam seu Código de Ética no próprio site. Das 352 restantes, 105 o fazem, por serem de capital estrangeiro, no site global da companhia (das quais somente 15 com traduções para outros idiomas, entre eles o português).

Significa que, se um cidadão brasileiro sem fluência em inglês quiser conhecer a orientação de condutas e práticas de uma empresa local, só conseguirá encontrá-la em 163 empresas (das quais 15 encontrando a versão taduzida em sites estrangeiros). É muito pouco, considerando-se que são as 500 "maiores" empresas do Brasil.

Abaixo disso, a coisa deve piorar ainda mais.

Outro dado interessante da pesquisa é a fraca disposição das empresas para mostrar no site o balanço das atividades sociais, ainda que o tema faça parte das preocupações de qualquer diretor de marketing minimamente sensato hoje em dia. Me lembrou uma coluna que fiz no ano passado, mostrando como as empresas não estavam preparadas para divulgar suas ações sociais (www.fenacon.org.br/pressclipping/2007/outubro/folha/folha301007.htm ) - coloquei esse link, pois a leitura é fechada para assinantes da Folha e do UOL.

Segue também o link para a pesquisa sobre o Código de Ética, que traz ainda bons artigos de especialistas e representantes do terceiro setor:

http://etica4.tempsite.ws/images/pesquisa_codigo_etica_2008.pdf

domingo, 20 de abril de 2008

Mau exemplo

Vocês já devem ter ouvido falar: o governo chinês "ordenou" que diversas empresas de Pequim e outras cidades reduzissem o ritmo de produção, de forma a garantir o ar limpo durante as provas olímpicas.

Limpo não, respirável para os atletas, especialmente para provas mais aeróbicas como as de corrida e de ciclismo.

A pergunta é: o ar que não serve para um atleta serve para um cidadão?

É isso que o governo chinês está admitindo, ainda que indiretamente: ok, temos um ar tão poluído que são necessárias medidas drásticas para torná-lo melhor. Mas, quando os jogos passarem, tudo volta ao normal, inclusive a poluição.

Fico sempre com um pé atrás quando as pessoas dizem que a China é o pior exemplo de desenvolvimento sustentável do planeta. Fatos como esse, no entanto, só reforçam essa percepção. E justo na Olimpíada, que está sendo preparada para ser a grande apresentação extra-econômica do país para o mundo ocidental.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Plágio na Academia?

Recebi hoje do geógrafo Rogério Jorge, da USP, uma denúncia de plágio de seu trabalho. Segue abaixo o texto escrito pelo próprio geógrafo. Os documentos que ele enviou em anexo (que não posto aqui apenas por ficar muito extenso) realmente apontam para um plágio. Tentarei checar com a outra parte envolvida.


"A história é mais ou menos assim: quem detectou a duplicidade, dia 31 de março, foi o estudante de geografia Marcos Nicolau Santos Silva, da Universidade Estadual de Viçosa. Há algumas semanas nos correspondíamos, já que ele entendia que seu TCC tinha algumas semelhanças com minha dissertação de mestrado. Então, nesse dia, ele me contou que seguia sua pesquisa e utilizava algumas palavras-chave no Google, quando se deparou com um texto muito parecido com o meu...

Daí em diante, tenho denunciado o larápio dessa forma:

O artigo "O Papel do Território como Estratégia de Desenvolvimento de Regiões Rurais", publicado em 2007, nas revistas Campo - Território da Universidade Federal de Uberlândia (vol. 2, nº 4) e Espaço & Tempo da Universidade de Brasília (vol. 10, nº 1), são de minha autoria e não de Freed Vieira Ribeiro. Este senhor se apresenta como mestrando em geografia pela Universidade Federal de Goiás, mas na verdade é um batedor de carteiras ordinário, que já foi flagrado em outra ocasião, cometendo o mesmo delito. Daquela vez, subtraiu o trabalho do professor Marcelo Rodrigues Mendonça, da UFG – Campus Catalão.

O texto que reclamo a autoria foi baseado em minha dissertação de mestrado, defendida em junho de 2003, junto ao Programa de Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo, orientada pelo professor José Eli da Veiga e publicado originalmente na Revista do Centro de Ciências Administrativas da Universidade de Fortaleza (vol. 9, nº 2, dezembro de 2003). Além desta evidência, tenho diversas outras provas incontestes que estou sendo lesado por esta pessoa, vide: meu Currículo Lattes, Biblioteca Digital de Teses USP e o fato de grande parte da pesquisa de campo ter sido feita no sul da França no ano de 2002.

Os textos que causam minha indignação estão anexados e podem, eventualmente, ser comparados ao meu. Reitero que eles foram publicados sem minha autorização e não parecem configurar plágio, mas diretamente mudança de autoria, além de mutilação de alguns parágrafos. Também é interessante notar que o erro em inglês que cometi no título do abstract permaneceu intocado."

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Livros

Três indicações de leitura (sempre preciosas) do prof. José Eli da Veiga, publicadas hoje no jornal Valor Econômico. Segue também abaixo um pedaço do texto, que em breve poderá ser encontrado no http://www.zeeli.pro.br/

“Ethics and the Environment" - Dale Jamieson.
Cambridge Univ. Press, 221 págs.

"Ethics and Business" - Kevin Gibson.
Cambridge Univ. Press, 255 págs.

"The Ethics of Climate Change" - James Garvey.
Continuum, 179 págs.

Idéias quentes para uma ética ambiental
Por José Eli da Veiga, para o Valor, de Cambridge

"Esses três recentes e utilíssimos lançamentos de duas editoras britânicas têm muita coisa em comum, embora sejam dirigidos a segmentos bem diferentes de leitores. São textos de filosofia moral,escritos por profissionais do ramo, e sobre o mais crucial cacho de desafios do século XXI: os socioambientais. Além disso, são irrelevantes as diferenças de abordagem teórica, embora seja imensa a diferença de estilo entre os dois primeiros e o terceiro. Os professores Dale Jamieson, da universidade de New York, e KevinGibson, da católica Marquette (Wisconsin), sistematizaram seus cursos em amplas introduções às éticas ambiental e empresarial. Já a aposta do secretário do Royal Institute of Philosophy, JamesGarvey, foi bem mais arriscada: dizer sem rodeios o que considera certo e errado em um mundo em aquecimento ("Right and wrong in a warming world" é o subtítulo).

Impossível exagerar a importância dessa trinca, pois os desafios colocados pela emergência socioambiental são antes de tudo éticos.No que se refere às empresas, é até desnecessário argumentar, pois basta pensar um pouco no termo escolhido para essa dimensão: "responsabilidade". Mas não é muito freqüente que o mesmo seja assumido por cientistas sociais, com destaque, é claro, para os economistas. Tendem a transmitir a ilusão de que os graves problemas socioambientais deste século poderiam ser razoavelmente analisados no âmbito de suas disciplinas, sem necessidade de abordar questões prévias e bem mais abstratas sobre o modo com que a espécie humana lida com todo o restante da natureza.Exemplo bem recente acaba de ser oferecido por Jeffrey D. Sachs, ao afirmar que "o controle climático não é um jogo moral, mas um desafio tecnológico prático e solucionável" ("Scientific AmericanBrasil", abril 2008, pág. 28)." (...)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Viés

Vejam só como uma mesma informação pode ser enviesada.

Recebi há pouco um release de imprensa da AES Eletropaulo, a distribuidora de energia elétrica da região metropolitana de São Paulo, com o seguinte texto:


AES ELETROPAULO INSTALA AQUECEDOR SOLAR EM FAVELAS

Projeto tem como objetivo auxiliar na redução de até 50% da conta de energia elétrica dos clientes com baixo padrão aquisitivo e com consumo elevado que tiveram as ligações legalizadas

"A AES Eletropaulo, distribuidora que atende 24 municípios da Região Metropolitana de São Paulo - incluindo a Capital -, inicia neste mês de abril a instalação de equipamentos de energia solar nas comunidades de baixa renda que tiveram as ligações clandestinas legalizadas. Inicialmente, será realizado um teste piloto em 20 casas da favela de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, a fim de se ganhar conhecimento e experiência no desenvolvimento da solução para posterior decisão de expansão nas áreas regularizadas. A primeira instalação do aquecedor solar foi concluída na sexta-feira passada, dia 4 de abril, e as outras serão finalizadas até o fim deste mês.

"Após seis meses de testes em Paraisópolis, esperamos chegar junto com nossos fornecedores a um resultado concreto de solução para aquecimento solar adaptado às condições de urbanização de nossas favelas. Esses imóveis possuem peculiaridades de construção e seria bastante oneroso e complexo instalar um equipamento padrão de energia solar nestes locais", explica o gerente de Recuperação de Mercado da AES Eletropaulo, José Cavaretti. Até o fim de 2010, a distribuidora espera instalar dez mil equipamentos de energia solar em favelas e conjuntos habitacionais, com investimento previsto de mais de R$ 15 milhões. (...)"


Ok. Tudo muito bom, uma companhia responsável, não fosse um detalhe: o que de fato motivou a Eletropaulo a adotar esse procedimento foi a tentativa de reduzir o elevado índice de ligações clandestinas nessas regiões, conhecidos como "gatos", e também reduzir o elevado índice de inadimplência dessa camada mais pobre da população (uma informação que até aparece no release, mas escondidinha, quase no final do texto). Ou seja, uma ação puramente comercial.

A questão aqui não é a Eletropaulo, que tem lá seus problemas mas é uma companhia séria. O problema é essa utilização excessiva da responsabilidade socioambiental em ações de caráter exclusivamente comerciais ou negociais das empresas. Há um notável exagero nesse sentido.

Uma coisa é a louvável - e necessária - convergência desses conceitos de responsabilidade para os negócios da empresa. Outra, totalmente diferente, é aproveitar algum mote social ou ambiental para utilizá-lo como se fosse ele o responsável por determinada ação.

É preciso ficar atento!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Aprenda e pratique

Temos hoje um aliado importante na educação socioambiental: a tecnologia.

Recebi nos últimos dias dois interessantes - e simples - mecanismos de aprendizado ambiental. Um é uma calculadora de sua emissão "pessoal de CO2" na atmosfera a partir de seus hábitos de consumo. Outro, mais voltado para o público infantil, é um jogo onde ganha quem consegue tornar a casa mais eficiente (energia, lixo, etc.)

Vale a pena experimentar:

Calculadora de CO2
www.climaeconsumo.org.br

Jogo da Casa
http://www.wwf.org.br/_casaeficiente

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Artigo

Segue um interessante artigo publicado no Correio da Cidadania, de autoria do Danilo Di Giorgi (confira a íntegra do texto no link abaixo)

"Um dos maiores problemas da sociedade contemporânea mostrou sua cara feia em meados de março na cidade de São Paulo, quando conseguimos bater todos os recordes históricos de congestionamento nas ruas e avenidas da metrópole. Durante quatro dias, as marcas foram sendo sucessivamente superadas, até chegarmos no dia 13 de março a incríveis 221 quilômetros de vias travadas.

Nas semanas seguintes, pipocaram nos meios de comunicação opiniões de especialistas propondo soluções: pedágios urbanos, melhoria da rede de transporte público e ampliação do rodízio foram algumas das principais idéias. Sabemos que, apesar de serem soluções de aplicação necessária a curto prazo, são apenas paliativas, pois temos exemplos de cidades européias onde todas as propostas acima citadas foram adotadas e o crescimento do número de veículos em circulação continua provocando o entupimento crescente das ruas.

Uma análise estratégica de longo prazo mostra que o problema está basicamente no excesso do número de carros em circulação (somente na capital paulista, a cada dia são emplacados quase mil novos veículos). A idéia ganhou força para mim depois que li a edição da revista Exame do dia 20 de março e percebi a grande preocupação dos responsáveis pela publicação em desmentir esta tese."

www.correiocidadania.com.br/content/view/1641/57

Oportunismo?

O caso ainda nem está bem resolvido e já criaram uma ONG para a mãe da menina Isabella, cuja violenta morte chocou o País. A proposta da ONG, segundo a imprensa, é combater a violência infantil.

Sei não...

Isso tem uma cara de oportunismo que, a meu ver, só prejudica a imagem que as ONGs têm hoje na sociedade - imagem essa, é bom lembrar, já afetada pelo infeliz nome de batismo da CPI das ONGs.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Impressões

Das diversas palestras e conversas que pude assistir aqui no 5º Congresso GIFE, em Salvador, pude tirar algumas impressões sobre os debates que hoje estão no foco do chamado terceiro setor, sobretudo do ponto de vista das fundações e institutos ligados às empresas, que são o principal público do GIFE.

Há no ar um questionamento quase existencialista sobre o atual estágio de desenvolvimento das organizações e sobre quais são, afinal, os seus limites de atuação nas diversas áreas. "Quem somos e para onde vamos" seria uma frase quase perfeita para resumir os debates que ocorreram nesse encontro realizado na capital baiana.

Um exemplo interessante é o do marco regulatório. Há consenso de que ele é ultrapassado (basicamente calcado na regulamentação das organizações de Utilidade Pública Federal, de 1935!!), uma verdadeira "colcha de retalhos dos mais díspares", como definiu ontem Ruth Cardoso, e que não representa adequadamente o peso que as organizações da sociedade civil assumiram nas duas últimas décadas.

O consenso, no entanto, para por aqui. O setor é hoje tão complexo e heterogêneo, com tantas entidades representativas, que uma convergência real dos interesses para uma proposta unificada de legislação parece, em princípio, impossível.

Ao mesmo tempo, há uma pressão nesse sentido oriunda da CPI das ONGs. O medo de que possíveis alterações debatidas unicamente no Congresso - e boa parte das propostas isoladas vindas de lá é de restringir a flexibilidade das ONGs e demais organizações - seja pior do que o que temos hoje é visível entre representantes do setor.

A necessidade de maior organização e convergência, nesse ambiente, torna-se questão de sobrevivência.

A relação das entidades com o setor público é outro foco interessante. Ouvi muitas queixas de que o governo está restringindo de maneira importante a liberdade de atuação das organizações, apoiando e financiando cada vez mais apenas aquelas que tenham alguma identidade com as ações e linhas de pensamento do próprio governo. As organizações deixam, assim, de serem "parceiras" para se tornarem meras "executoras" dos projetos. E pior, a CPI das ONGs, de novo, parece ter dado força a setores dentro do governo para reforçar a hostilidade contra a independência e a flexibilidade das organizações da sociedade civil. A conferir...

Outro debate que percebi nitidamente é o relacionado aos conceitos utilizados no terceiro setor. Além de uma baita confusão sobre o que define exatamente cada um deles, sobretudo após a explosão do tema "sustentabilidade" na publicidade, há questionamentos importantes sobre os investimentos sociais privados feitos exclusivamente por meio de benefícios fiscais - em muitos casos, as empresas não botam um centavo no projeto, mas utilizam o marketing a ele relacionado em favor de sua marca. "Poxa, o Cirque du Soleil foi totalmente bancado por recursos públicos!", espetava ontem um conhecido representante de um instituto.

Tal exemplo suscita a pergunta: é legal, ok, mas é moral?

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Juventude na mira

Existe hoje uma concentração do investimento social privado no segmento jovem da população, mostra pesquisa realizada pelo Ibope em parceria com o Gife e o Instituto ibi.

Segundo a pesquisa, cerca de 70% dos associados do Gife ouvidos no Censo 2007-2008 apóiam direta ou indiretamente projetos exclusivamente dedicados aos jovens, a maior parte no segmento de educação e formação profissional desse público.

"O que um jovem quer a partir dos 14 anos? Trabalhar e ganhar algum sustento", resume Fernando Rossetti, do GIFE.

Há poucos projetos ligados ao tratamento de problemas com álcool e drogas. O que é bom, avalia Rossetti, pois revela uma maior preocupação em tratar as causas (falta de formação educacional e profissional) desses problemas do que seus efeitos.

A pesquisa também revela que o complexo trabalho de acompanhamento de cada indivíduo após deixar o projeto é, hoje, praticamente inexistente.

Capitalismo 3.0


Conceitos da WEB 2.0 aplicados às estruturas do sistema capitalista?

Sim, o mundo está mudando velozmente. E o autor norte-americano Peter Barnes resumiu isso em um livro imperdível para quem tenta entender um pouco essas mudanças.

O livro (uma valiosa dica do prof. José Eli da Veiga) pode ser baixado na íntegra no site: http://www.capitalism3.com/

Mortalidade incontável





O número de ONGs no Brasil não para de crescer, certo?

Certo, mas em termos.

Ao contrário das empresas, que quando morrem precisam de formalidades legais de encerramento de suas atividades (por questões tributárias, principalmente), muitas das ONGs que já não existem mais continuam registradas como se ainda existissem.

Não há, por conta disso, qualquer índice confiável de mortalidade das ONGs no Brasil.

Sabe-se apenas que ele é alto.

Os sete perfis do doador

A doação média de cada pessoa para fins sociais no interior paulista é de R$ 388 por ano, mostra pesquisa do IDIS divulgada hoje pelo seu presidente, Marcos Kisil.

A pesquisa traça um interessante perfil do doador nessa região. A maioria é do sexo feminino, não fez faculdade e tem em média 40 anos de idade. O grosso das doações ainda vai para a Igreja, mas as organizações sociais estão cada vez mais nesse radar do dinheiro.

A partir dessa pesquisa, Kissil definiu sete arquétipos do doador brasileiro:

O Devoto é aquele que doa porque Deus quis assim. O Comunitário acredita ter um papel de melhora na sociedade. O Retribuidor doa porque foi beneficiado em algum momento de sua vida pela entidade/organização que agora pode ajudar. O Herdeiro doa por uma tradição de família. O Socialite gosta mais do evento do que da ação social em si. O Altruísta se sente bem ao doar. E o Investidor é aquele que se preocupa com o impacto gerado pela doação, bem como a eficiência desses recursos.

Segundo Kisil, esse último é o que mais faz falta. E deve servir como um modelo para os demais.

Avaliação pobre

As empresas não costumam avaliar com a devida atenção a operação e os resultados de seus investimentos na área social e ambiental.

E o que é mais interessante: ao contrário do que se imaginava, essa falha na avaliação não depende do porte das empresas. As grandes avaliam - ou não - tão mal quanto as pequenas.

É o que mostra uma pesquisa divulgada hoje por Ana Maria Peliano, do IPEA, aqui no Congresso do GIFE, em Salvador.

Empresas investem R$ 1,15 bi no social



O investimento social realizado pelas maiores empresas brasileiras chegou a R$ 1,15 bilhão em 2007, mostram os dados preliminares do Censo 2007-2008 divulgados ontem pelo GIFE. O levantamento, um dos mais importantes do chamado terceiro setor, refere-se aos investimentos em projetos sociais e ambientais realizados diretamente pelas empresas ou por meio de suas fundações e institutos, num universo de 101 associados ao GIFE.

Os números parecem não acompanhar a verdadeira explosão do chamado "marketing social" dos últimos anos, especialmente em 2007. No censo anterior, referente a 2005, o volume de investimentos sociais das empresas foi de R$ 1 bilhão para um universo de 89 participantes. "Realmente não houve uma alteração significativa no volume do investimento social privado, cujo aumento parece refletir mais um crescimento orgânico dos próprios associados", comentou o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti.

O que pode explicar esse aparente contraste, segundo ele, é a tendência de as empresas focarem cada vez mais os seus investimentos sociais em ações internas, por exemplo, em relação aos próprios funcionários ou à comunidade em torno das instalações, em boa parte dos casos associadas à gestão da marca. Em resumo, ações de caráter ético voltadas ao próprio negócio, que se encaixam no conceito de responsabilidade social empresarial, e não de investimento social privado.

"Me parece que boa parte dos recursos que antes eram destinados para o interesse público, dentro do conceito de investimento social privado, hoje estão concentrados nos investimentos ligados à responsabilidade empresarial. Como ambos estão sob o guarda-chuva de um conceito maior, que é o da sustentabilidade, pode dar a impressão de que as empresas não estão investindo mais do que antes", explicou Rossetti.

Os dados do Censo GIFE 2007-2008 apontam ainda uma concentração expressiva dos investimentos sociais das empresas em projetos de educação e formação profissional, sobretudo na faixa jovem da população. Os projetos de educação, no topo da lista, recebem investimentos de 83% dos associados consultados na pesquisa. O item "Formação para o trabalho" aparece em segundo lugar, com investimentos de 59% dos participantes.

"Há um grande foco hoje na educação, para o trabalho e para a geração de renda, o que mostra uma convergência do investimento social privado com as grandes políticas nacionais do governo", avaliou o secretário-geral do GIFE, lembrando que nos primeiros anos da gestão FHC, que segundo ele teve um enfoque maior na educação fundamental, esse investimento social também estava concentrado nas crianças.

O investimento das empresas em cultura e arte também foi destaque no ano passado, assim como em anos anteriores, com 55% das empresas atuando de alguma forma no segmento. Só que por outro motivo: os incentivos originados pela Lei Rouanet e pela Lei do Audiovisual, que prevêem benefícios fiscais para os recursos destinados pelas empresas para projetos do setor. "A Lei Rouanet é de longe a mais utilizada pelas empresas, pois é o instrumento que sabem melhor utilizar."