sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Biodiversidade: enfim, uma boa notícia

Depois de um certo desânimo inicial, parece que a COP-10 realizado em Nagoya, no Japão, para tratar do tema da biodiversidade, trouxe finalmente uma boa notícia. Que sirva de exemplo para a até agora desacreditada COP-16 sobre o clima que acontece em novembro no México.

Segue comunicado recém-saído do forno pelo WWF (que, aliás, fez um belíssimo trabalho de acompanhamento e divulgação de todo o evento).

"Rede WWF - Declaração final - Cop 10 Convenção sobre Diversidade Biológica

Natureza ganha vigoroso alento com o novo acordo sobre biodiversidade

Nagoia, Japão - Os governos reunidos na reunião da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) chegaram a um acordo. Quando for aplicado, esse novo acordo colocará o mundo num rumo capaz de ajudar a prevenir a extinção em massa das espécies e a acabar com o declínio da natureza valiosa do planeta.

"Os ministros trabalharam arduamente nos últimos três dias para estruturar esse acordo. Esperamos que seu espírito e determinação se ampliem para outros espaços de discussão, inclusive para as reuniões de negociações climáticas que acontecerão em breve em Cancun", comentou Jim Leape, diretor-geral da Rede WWF.

A Rede WWF acolheu bem a adoção desse novo plano de 10 anos para resgatar a biodiversidade.

Segundo Leape, "o novo acordo reafirma a necessidade fundamental de se conservar a natureza por que ela é a própria base da nossa economia e da nossa sociedade. Os governos enviaram uma mensagem vigorosa afirmando que, na política internacional, há lugar para a proteção da saúde do planeta e que os países estão prontos a unir esforços para salvar a vida na Terra".

Os delegados presentes à reunião conseguiram superar o impasse na questão que, durante 18 anos, desde a assinatura da Convenção, havia impedido que se chegasse a uma resolução. Trata-se da questão do acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios.

"O Protocolo de Nagoia é um sucesso histórico e assegura uma repartição mais eqüitativa do valor -- muitas vezes imenso -- dos recursos genéticos", declarou Leape.

Os governos chegaram a um acordo sobre uma meta para terminar com a sobrepesca e outra para proteger 10% das áreas marinhas e costeiras, inclusive em alto mar. Embora a Rede WWF reconheça o importante passo dado para aumentar em 10% a proteção atual em todo o mundo, a organização ambientalista considera que essa meta equivale ainda a apenas metade do que é recomendado pelos cientistas.

"Os governos concordaram em proteger 10% de todos os oceanos do planeta e parar com a sobrepesca - isso é uma ótima notícia para os mares do mundo."

O novo plano da biodiversidade estabelece uma meta de 17% de proteção para habitat terrestre, o que significa um modesto aumento em relação à média mundial atual, que é de aproximadamente 12%. Os governos também chegaram a um acordo sobre a meta para a reforma dos subsídios considerados prejudiciais. O novo acordo exige, ainda, que os países incorporem a garantia da biodiversidade em sua contabilidade nacional - isso é um sinal político importante e tem potencial para colocar em andamento uma abordagem diferente para a tomada de decisão econômica.

O país anfitrião do evento, o Japão, prometeu, esta semana, recursos financeiros significativos para a biodiversidade. Já os países desenvolvidos mostraram-se incapazes de se mobilizar para garantir uma injeção imediata de recursos financeiros que sejam novos e relevantes. No entanto, os governos conseguiram concordar com um plano para identificar, até 2012, os fundos necessários para executar o plano. É vital garantir dinheiro novo para enfrentar rapidamente a perda da biodiversidade mundial.

"Embora se observe um progresso significativo em várias frentes, ainda há muito trabalho a ser feito para mobilizar os recursos necessários para ajudar o mundo em desenvolvimento a alcançar suas metas".

"Ficamos decepcionados com o fato de que os países mais ricos vieram a Nagoia de bolsos vazios - sem poder ou sem querer fornecer os recursos financeiros para que o mundo em desenvolvimento consiga alcançar suas ambiciosas metas", concluiu Leape.

Os governos saem de Nagoia com um acordo que aponta o novo caminho a seguir para salvar a vida do planeta. É fundamental, agora, que eles sejam rápidos em agir e transformar suas promessas em ações. "

mais informações em: wwf.org.br

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Geração de valor diminui problema do lixo

Enxergar o valor econômico do lixo pode ser a senha para a solução de um dos maiores problemas ambientais do século: a destinação adequada para os mais de 2,1 trilhões de toneladas de lixo gerados ao ano pelo homem.


É um mercado e tanto. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no país mais de R$ 8 bilhões em materiais recicláveis foram parar em aterros sanitários e lixões em 2009.

O que explica tamanha fortuna sendo, literalmente, jogada no lixo? De acordo com especialistas, há várias respostas. "O lixo, por sua própria natureza, nunca foi prioridade nas políticas públicas", explica o técnico do Ipea, Jorge Hargrave.

Uma realidade que se reflete nos contratos de concessão do municípios para a gestão do lixo. Focados no transporte e aterro, acabam estimulando as empresas a enterrar lixo sem preocupação com coleta seletiva.

"Muitos prefeitos falam que não há recursos para a coleta seletiva, e eles deveriam ver isso como oportunidade de reduzir gastos", diz o professor Sabetai Calderoni, do Instituto Ambiente Brasil.

Somente no município de São Paulo, segundo ele, mais de R$ 1 bilhão dos R$ 1,2 bilhão gastos ao ano com gestão do lixo poderiam ser economizados com coleta seletiva e reciclagem -menos gasto com transporte e aterros. (...)
 
Leia a íntegra da coluna publicada ontem na Folha em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2610201023.htm

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

SWU: considerações

Antes de tudo, é bom ressaltar que não existe pessoa, evento ou empresa 100% sustentável. A sustentabilidade é sempre uma busca, um objetivo, uma espécie de cenourinha a orientar ações pessoais e coletivas para um mundo melhor e mais organizado.

É bom ressaltar também que estou organizando um evento de sustentabilidade, a Virada Sustentável de São Paulo (http://www.viradasustentavel.com/), e que os comentários aqui não guardam qualquer relação com isso. Pelo contrário: quanto mais eventos com esse tema, melhor para todos, desde que sejam sérios.

Pois bem, estive no SWU no último fim de semana. Um mega festival, muito bonito, bandas incríveis e uma organização até que razoável para um evento de tal porte. Só faltou, na minha opinião, alinhar com o tema da comunicação utilizada na sua divulgação:  a sustentabilidade.

A organização até que correu atrás, na última hora, de parcerias e apoios que aproximassem o evento da sustentabilidade. Chamou ONGs ambientalistas, criou um fórum de debates com personagens internacionais (eu, como colunista da Folha, nunca tinha ouvido falar de quase nenhum deles), montou uma exposição incrível com a curadoria do Srur, enfim...

Infelizmente, não foi o suficiente.

1) As pessoas não puderam levar sua própria água ou alimento. Até que compreensível, não fosse o fato de que eles só podiam ser comprados a preços abusivos no evento, preços de balada noturna de São Paulo. Eu mesmo tive uma barra de chocolate confiscada. E olha que era da Nestlé, uma das patrocinadoras do evento...

2) Gastei, com minha namorada, o suficiente para preencher três dígitos de um cheque. No final do evento, me restou uma ficha de R$ 3 com a qual eu não conseguia comprar nada, sequer uma água. Fui ao caixa para trocar por dinheiro e.. surpresa! Nada de devolução. Algo realmente muito estimulante do ponto de vista do consumo responsável...

3) Dona Irene, uma simpática senhora, faxineira da rodoviária de Itu, estava exausta no domingo. Nunca tinha trabalhado tanto na vida, nem visto tante gente junta. A frase dela resume bem a situação: "Poderiam ter chamado uma pessoa para me ajudar, era tudo que eu precisava". Não vou entrar aqui no mérito dos catadores de lixo durante o evento, que ganhavam R$ 45 para trabalharem 12 horas seguidas.

4) Não vi, nem ouvi, UMA mensagem sequer de sustentabilidade durante os shows. Se houve alguma banda que citou ou estimulou o público nesse sentido, por favor me avisem.

Não vou entrar aqui nos problemas de transporte, de filas nos banheiros, de ausência de estacionamento para bicicletas, de falta de informações e de equipe adequada nas saídas e na entrada, de venda de álcool, de insuficiência de latas de lixo, do número limitado de participantes do fórum, de as fichas valerem apenas por UM dia e de tantos outros assuntos repetidos à exaustão por pessoas que estiveram ali e deixaram suas opiniões na web.

São problemas que podem ser - e espero que sejam - corrigidos numa próxima edição do festival.

De qualquer forma, fica a lição: usar o argumento da sustentabilidade envolve muito mais que promover uma comunicação bacana ou expor obras que chamem a atenção para o assunto. Envolve planejamento de sustentabilidade. E, nesse aspecto, o SWU foi um verdadeiro fiasco.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Nagoya será uma nova Copenhague?

A 10ª Conferência das Partes da Organização (COP 10) das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, que acontece entre os dias 18 a 29 de outubro em Nagoya, no Japão, pode ter resultados desanimadores para a agenda global da biodiversidade.
“Poderemos ter uma nova Copenhague em Nagoya”, alertou recentemente o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Bráulio Dias, referindo-se à reunião sobre mudanças climáticas realizada em Copenhague no final do ano passado (COP 15), que terminou sem acordo efetivo entre os países.

Segundo o secretário, as reuniões preparatórias para a COP 10 realizadas em Montreal, na semana passada, não conseguiram alcançar consenso sobre o protocolo de Acesso a Recursos Genéticos e Repartição de Benefícios, o termo que regula a distribuição dos benefícios relacionados às descobertas genéticas e a aplicação dos recursos na conservação da biodiversidade.

"As negociações em Montreal não avançaram e o que vemos hoje é o risco de não termos um protocolo fechado em Nagoya", disse Dias, acrescentando que a ausência do protocolo e a não definição dos meios de implementação para interromper a perda da biodiversidade até 2020, segundo proposta dos países europeus, podem impedir os avanços esperados na COP 10.

Um fracasso em Nagoya, segundo representantes da ONU, aumentaria de maneira expressiva o risco de perda da biodiversidade no planeta em ritmo acelerado. E repetiria o fracasso do compromisso assumido em 2002 para conter “de forma significativa” essa perda até 2010, ano mundial da biodiversidade.

“A meta para 2010 não foi alcançada. E a degradação da biodiversidade se acelera no mundo”, decretou em tom pesaroso o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, após participar de reunião sobre as Metas do Milênio realizada em Nova York.

Para o MMA, significaria também um duro golpe no objetivo de assumir papel de liderança nas discussões relacionadas à biodiversidade. Ao contrário das discussões sobre o clima, nas quais credita a maior parte da responsabilidade aos países desenvolvidos, na preservação da biodiversidade o governo brasileiro assume publicamente esse papel.

Tanto que o Brasil já se ofereceu para sediar o novo “IPCC da Biodiversidade”, um painel intergovernamental da ONU específico para a biodiversidade, nos mesmos moldes do IPCC, que trata das questões climáticas e hoje é a principal referência de pesquisa no assunto.

Leia coluna publicada recentemente pela Folha em:

http://www.empresaspeloclima.com.br/index.php?page=Noticia&id=194628