terça-feira, 30 de junho de 2009

GRI: Empresas ainda não incorporam sustentabilidade

Os relatórios de sustentabilidade são um meio de informação cada vez mais demandado pela sociedade para conhecer a realidade das empresas, inclusive no que diz respeito aos seus problemas. E, assim como em outros países, muitas empresas brasileiras que publicam balanços ainda não incorporam as práticas relatadas às suas estratégias de negócios.

A opinião é do holandês Ernst Ligteringen, presidente mundial da Global Report Initiative (GRI), organização responsável pela elaboração das normas e diretrizes mais utilizadas no mundo para a publicação dos balanços sociais e relatórios de sustentabilidade das empresas. De passagem pelo Brasil, o executivo concedeu na semana passada a seguinte entrevista:

As empresas brasileiras estão divulgando corretamente suas ações de sustentabilidade?

Ernst Ligteringen - Na América Latina, o Brasil é o líder em publicações, com mais de 60 relatórios anuais. Em termos de qualidade, no entanto, o País ainda reflete o que vemos em outras partes do mundo: uma grande disparidade. Há empresas lideres, que estão integrando seu gerenciamento de sustentabilidade a prática dos negócios e se distinguindo estrategicamente por isso. Há um grande número de empresas que estão progredindo gradualmente, que estão no caminho de descobrir como utilizar seus relatórios de uma maneira mais estratégica. E há também aquelas empresas que fazem o relatório somente porque acham que será bom para sua reputação.

Como diferenciar esses grupos?

Ligteringen - Temos de olhar para as práticas de negócios, saber se o relatório está verdadeiramente integrado à estratégia da empresa. Pode se perceber, por exemplo em um banco, se eles apenas montaram uma equipe para fazer um relatório ou se realmente identificam a quem estão dando crédito, sob que condições, se eles realmente coletam dados sobre o impacto de sua política de empréstimos, etc. Um banco que age assim é muito diferente de um banco que não tem qualquer política e simplesmente junta palavras para publicar um relatório de sustentabilidade.

Em alguns países já é obrigatório publicar relatórios de sustentabilidade. Isso é importante ou o desenvolvimento deve ser espontâneo?

Ligteringen - Até agora o crescimento têm ocorrido majoritariamente numa base voluntária. A KPMG identificou que, em 22 países, aproximadamente três mil empresas relatam suas práticas. Mas existem pelo menos 72 mil multinacionais. Mas se olharmos por volume, das 250 maiores empresas do mundo, aproximadamente 80% produzem relatórios. De qualquer forma, é importante ampliar a base. E o que a lei deveria fazer é determinar um mínimo do que tem de ser relatado pelas empresas. Nossa expectativa é de que as empresas publiquem relatórios, e quem não quiser ou não puder fazê-lo explique o porquê. Isso foi introduzido na Dinamarca recentemente, e até certo ponto, aplicado no Reino Unido.

Como o cidadão tem aceso a toda essa informação?

Ligteringen - A maioria das empresas publicam seus relatórios nos sites. Mas o futuro mesmo são os sistemas de busca na internet, porque a maioria das pessoas não está morrendo de vontade de ler relatórios de sustentabilidade. Elas geralmente têm questões específicas: “eu ouvi dizer que esta empresa está envolvida com trabalho infantil...” ou “como posso saber se os produtores de etanol estão de fato parando de realizar queimadas antes das colheitas de cana?” Pesquisas indicam que há uma expectativa de que qualquer empresa responsável tenha esse tipo de informação disponível. De que esteja acessível quando um investidor, um empregado ou um cidadão tem uma dúvida. Isso dá confiabilidade à empresa, principalmente quando há informações sólidas e balanceadas, quando a empresa é honesta e relata não só os pontos fortes, mas também os aspectos em que precisa melhorar.

Como esse leitor reage ao ler os relatórios?

Ligteringen - Nossas pesquisas indicam que 82% das pessoas formam uma imagem mais positiva da empresa quando encontram esse tipo de informação. Muitas companhias tentam fazer o leitor acreditar que estão criando um tipo de paraíso na Terra, só fazendo o bem. Nenhum leitor acredita nisso. As pessoas hoje têm questões, geralmente estão cientes de quais são os pontos críticos, e buscam uma informação balanceada. É isso o que ajuda a empresa a ganhar a confiança das pessoas.

(André Palhano e Iuri Ribeiro)