segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Educação exige presença do setor privado

"Garantir o acesso a uma educação básica de qualidade, um dos desafios do milênio estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas) para 2015, exigirá mais do que recursos e esforços do setor público. Exigirá, também, uma participação ativa do setor privado, seja na exploração do segmento, seja no financiamento de atividades educativas e no engajamento com os governos. Essa é a síntese de debates realizados na última semana em Doha (Qatar) durante o World Innovation Summit for Education (Wise), encontro que reuniu especialistas em educação de mais de 120 países.

"O direito à educação não é garantido hoje para milhões de pessoas no mundo e dificilmente conseguiremos cumprir essa meta nesses próximos seis anos. Isso ocorre porque a educação do século 21 exige investimentos cada vez mais complexos, que muitas vezes os Estados não dão conta de suprir", disse a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, lembrando que a crise global afetou de maneira significativa o financiamento público à educação em diversos países. (...)

Veja a íntegra da coluna publicada originalmente na Folha em:
www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u656960.shtml

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Governo quer estimular a fabricação de carros menos poluentes


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou nessa semana a criação de um grupo de trabalho no governo com o objetivo de incentivar fabricantes de automóveis a trazer para o Brasil projetos que se preocupem com o meio ambiente. O grupo será composto pelos ministérios da Fazenda, Desenvolvimento, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia.


A idéia do governo é incentivar o uso de energias renováveis e aperfeiçoar os motores flex (movidos a álcool e gasolina), reduzindo suas emissões e estimulando a produção de carros mais modernos, como os movidos a energia elétrica ou híbridos.


O ministro anunciou ainda medidas de incentivo fiscal para automóveis com motores flex e os movidos exclusivamente a álcool, que ganharão mais quatro meses de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), também com o objetivo de estimular a produção de veículos menos poluentes.


Segundo Mantega, o grupo de trabalho vai produzir o primeiro relatório de resultados no final de março de 2010, quando os novos incentivos fiscais aos carros flex terminarão.


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Terra de Contrastes

De um lado um PIB crescendo a 13% ao ano (com crise e tudo), índices de educação entre os mais elevados do planeta e uma tranquilidade nas ruas de dar inveja a padrões escandinavos. De outro, trabalhadores estrangeiros vivendo em condições deploráveis, falta de liberdade de expressão e acesso praticamente nulo à cultura, num regime que se assemelha a um curioso e complexo “apartheid econômico”.

Essas são algumas das impressões deixadas no Qatar, país em forma de verruga que nasce na Arábia Saudita e se estende sobre o Golfo Pérsico. Sua capital, Doha, é mais conhecida do que o próprio país, pelas negociações internacionais de comércio exterior que tiveram a cidade como palco. Foi ali que aconteceu o World Innovation Summit for Education, ou simplesmente “Wise”, um termo em inglês incrivelmente parecido nas mais diferentes línguas presentes no evento.

Doha é uma cidade em obras. Assim como a vizinha Dubai (o emirado mais famoso dos Emirados Árabes), invade pedaços gigantescos de mar com obras faraônicas, concentra parte relevante dos grandes guindastes da construção civil no mundo e tem luxo, de sobra, em tudo quanto é lado.

Só não tem, a exemplo de Dubai, vida ou identidade própria. É como passear em uma cidade cenográfica, onde praticamente tudo é lindo, mas falta alguma coisa. Uma história, umas pessoas. Realmente, algo difícil num lugar em que todas as construções parecem ter menos de cinco anos.

Particularmente, achei chocante o contraste entre tamanha opulência e a realidade de grande parte dos trabalhadores. São milhões de paquistaneses, filipinos, indianos e demais povos da região, cujas vidas se restringem a um único ponto: trabalhar, trabalhar e trabalhar.

O mesmo parece ocorrer com a educação. De um lado, acordos com as mais renomadas universidades americanas e européias, em prédios dignos de contos árabes. Restrita, no entanto, a poucos. De outro, pessoas simplesmente excluídas, nada mais que isso.

Num jantar de gala oferecido pela esposa do emir aos participantes do Wise, com direito a Carla Bruni como convidada propaganda e tudo, vi uma das cenas mais impressionantes de minha vida: um verdadeiro exército, de cerca de 200 a 300 pessoas, todas com a mesma altura, com feições extraordinariamente semelhantes, saiu de dentro das cozinhas para servir os convidados. “Sei lá, me deu uma coisa ruim de ver isso”, resumiu a simpática americana que se sentava à nossa mesa na ocasião. Todos sentiram o mesmo.

Uma repórter brasileira (a ótima Camila Nobrega, do Globo) conseguiu se aproximar de um deles, que entre espantado e curioso contou a ela um pouco da sua vida. Albert, esse era o nome no seu crachá, vivia numa vila de trabalhadores da empresa que o contratou em seu país. Como um quartel improvisado, não se pode entrar ou sair de lá após as 23 horas. Mulheres e homens ficam separados.

Contou ainda que os trabalhadores, uma vez demitidos, são obrigados a voltar ao seu país de origem. Trazer a família do exterior, nem pensar, mesmo com um emprego razoável – o que explica, raciocinei, os índices de desemprego de primeiro mundo que o país ostenta.

Outras pessoas, semelhantes a Albert, relataram a mesma estória. Não com raiva ou arrependimento, apenas com a dignidade fria de quem não enxerga melhor opção.


terça-feira, 3 de novembro de 2009

Entrevista - Lester Brown

Uma das vozes mais influentes do planeta quando o assunto é sustentabilidade, Lester Brown esteve recentemente no Brasil para lançar a versão tupiniquim de seu livro "Plano B - 4.0". Em resumo, um verdadeiro manual sobre como sair da enrascada ambiental e alimentar em que a sociedade se meteu.

Em uma bateria de entrevistas para a imprensa local, invariavelmente de paletó sem gravata e vistosos tênis brancos, conversou com a repórter Marina Matos, que estréia em grande estilo sua participação neste blog. Confira:

Marina - As últimas semanas reforçaram o ceticismo sobre um acordo climático global na reunião de Copenhague, em dezembro. Qual será o efeito disso?
Lester Brown - Algumas das coisas mais importantes acontecendo no mundo hoje, sobre o clima, não tem nada a ver com Copenhague ou com governos. Por exemplo: a expansão das usinas eólicas no Texas, estado não exatamente conhecido por seu perfil ambiental. Ou a compra de energia solar do norte da África por empresas européias. O interessante dessas ações é que todas elas são extremamente importantes do ponto de vista climático. E não têm nenhuma participação direta de governos.

Ou seja, é possível avançar mesmo sem grandes acordos...
Por definição, a negociações internacionais sobre acordos climáticos não têm resultados muito audaciosos. Nenhuma delegação quer fazer mais do que as outras, e todas querem mostrar o máximo fazendo o mínimo. Eu tenho a sensação de que muitas das coisas que tem de ser feitas serão conduzidas por forças independentes dos governos. Acredito mais no que já está sendo feito pelos países e por acordos bilaterais do que em um grande acordo global.

O mercado é uma força “sustentável” nesse sentido?

O problema do mercado é sua falta de honestidade. Ele não diz a “verdade ecológica”. Não diz que, quando nós queimamos um barril de gasolina, pagamos pelos custos de produção, refino e distribuição, mas não os custos dos impactos climáticos dessa produção, como o da emissão de CO2. Esses são custos que num futuro próximo podem ser maiores do que o da própria produção de gasolina. Isso tudo leva o mercado a pensar que combustíveis fósseis são baratos quando comparados a outras fontes de energia renováveis, o que não é verdade.

O que pode ser feito?
As mudanças climáticas são resultado de um grande fracasso de mercado. Portanto, o que deve ser feito é reduzir os impostos sobre o trabalho e a renda e aumentar a taxação sobre esses custos ambientais, como as emissões de carbono. Aqui sim, os governos podem fazer a diferença. Enquanto isso, o setor privado aumenta sua pressão, sobretudo com as grandes empresas. Veja o caso do Wal-Mart: as grandes redes varejistas têm um poder de influência enorme sobre os fornecedores, maior até que o dos consumidores. Isso está se tornando finalmente um modelo estabelecido.

Há um gatilho climático ou econômico que obrigará o mundo a adotar o “Plano B” de que trata o livro?
Esperamos gatilhos de ordem climática que podem provocar profundas transformações econômicas e sociais, algo semelhante ao que o ataque à Pearl Harbor representou para a economia americana há décadas atrás. Mas ainda não sabemos ao certo. Se perguntarmos para os cientistas, a maioria deles provavelmente falaria do derretimento das calotas polares, um fenômeno que, se ocorresse em sua totalidade, faria com que os oceanos se elevassem em cinco metros, com profundos impactos nas regiões litorâneas. Se um pedaço grande dessas calotas derretesse, já seria o suficiente para que ocorresse uma elevação assustadora do nível dos oceanos.

Uma provocação: as novas tecnologias em desenvolvimento, por exemplo as de sequestro de carbono na atmosfera, não podem alterar completamente a urgência que é citada em seu livro?
Eu não tenho muita confiança em tecnologias de sequestro de carbono. As indústrias vêm falando disso há anos e quase nada está acontecendo de fato. A grande questão aqui é que é bastante improvável que algo comercialmente viável seja feito antes 2020, assim como em outras tecnologias semelhantes. Ou seja: até lá, nosso tempo pode ter se acabado.

Notícia importante

Parece um avanço para uma questão das mais complicadas a serem debatidas na COP-15. A notícia está estampada com destaque no site do Ministério do Meio Ambiente:

"Ministros de Meio Ambiente e representantes de 24 países fecharam um acordo, neste sábado (31/10), em Barcelona, para a criação de um fundo internacional de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas, em que os países desenvolvidos vão ajudar os em desenvolvimentos nas ações para mitigação do aquecimento global. Participaram do encontro representantes dos principais países que estarão na Convenção do Clima (COP-15), em dezembro, em Copenhague, na Dinamarca.

O fundo será financiado pelos países desenvolvidos, levando em conta o princípio do protocolo de Kyoto de responsabilidades diferenciadas para nações ricas e pobres. Então, ficou acertado que os países desenvolvidos vão dar dinheiro ao fundo de adaptação, e os em desenvolvimento ficam com o compromisso de investir diretamente em ações de combate às alterações do clima no próprio território. " (...)
 
Link: http://www.mma.gov.br/