quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O mau gosto da sustentabilidade

Todo mundo está de olho no tema da sustentabilidade. Ótimo. Mas tenho visto cada vez mais exemplos de uma certa dose de exagero (pode chamar de mau gosto) nas questões relacionadas ao tema. Cito aqui duas, que presenciei recentemente.

Uma delas é a exposição Ecos da Amazônia - 2008, na Fundação Bienal, que promete uma verdadeira "viagem interativa" no mundo da selva amazônica, com supostos ambientes da selva e imagens e textos educativos sobre o tema. Tem como principais patrocinadores o Bradesco e a Kraft Foods.

Pois bem, chego lá na abertura da exposição, a entrada é uma simulação da selva em uma sala com pouco mais de 20 metros quadrados, com alguns sons de floresta e diversos panos verdes imitando a mata. Nenhuma folhinha sequer. Pobre, mas o pior é quando você sai dessa primeira sala: cai de cara nos estandes dos patrocinadores, aquela luz branca quase cegando as pessoas, um lugar que mais parece uma feira corporativa do que uma exposição ecológica.

Aquilo já me frustrou um bocado. Sigo em frente e o que vejo são fotos (algumas excelentes) em quadros excessivamente pequenos, algumas absolutamente sem resolução, além de produtos do artesanato local e mais um ou outro exemplo (invariavelmente de mau gosto) de habitat da selva. Para piorar, um discurso um tanto altista de um representante da ProCultura, responsável pela exposição, como se aquele fosse o evento do ano.

A única coisa que salva na exposição é um quadro (bolado por um indianista e matemático) com as diferentes épocas do ano, os climas e seus efeitos na terra, água e ar, feito a partir da visão dos índios. Muito bom, mas só isso.

O outro exemplo foi o inesquecível show do João Gilberto, em São Paulo, em comemoração aos 50 anos da Bossa Nova. Aconteceu no auditório do Ibirapuera e teve patrocínio do Itaú.

Pois bem, fui no segundo dia de show, a convite do banco, e chegando lá dava para perceber que a confusão com a venda de ingressos na Internet teve um motivo óbvio: só havia praticamente celebridades e rostos conhecidos no evento, que duvido compraram os ingressos no site de vendas. Até aí tudo bem...

O pior foi ver o Zuza Homem de Mello, do alto de sua experiência em crítica musical, fazer um discurso de abertura que mais parecia um evento do próprio Itaú (comprovando minhas suspeitas em relação aos convites). Sim, achei que ia começar ali um seminário sobre sistema financeiro como os vários que presenciei em minha vida.

Poxa, tudo bem falar "O Itaú agradece a presença de todos", ou "se orgulha de poder proporcionar esse momento", mas não foi o que aconteceu. Foi bem mais extenso e absolutamente sem necessidade, uma vez que havia uma escultura do logo do Itaú no palco até bem pouco antes do começo do show. Em outras palavras, todo mundo sabia que o banco tinha patrocinado todo o evento, mas ninguém estava ali para ouvir palavras sobre o Itaú, e sim para ouvir o som ímpar do João. Um tremendo mau gosto.

Há vários outros exemplos. Mas o que as empresas precisam entender é que, em eventos culturais, sociais e esportivos, a ânsia de aparecer bem na foto pode acabar gerando um efeito inverso ao pretendido. E que, antes de tudo, é preciso privilegiar o bom gosto. Ou ao menos o bom senso.

Ação social sem aporte financeiro cresce no País

"O investimento social privado que não envolve o aporte direto de recursos para organizações e projetos vem ganhando cada vez mais espaço no setor empresarial. Em vez de dinheiro, entram a expertise das empresas nas respectivas áreas de atuação, os conhecimentos de gestão, administração e tecnologia, além da própria infra-estrutura, que são repassados às organizações e projetos sociais apoiados ou geridos pelas empresas e até mesmo a programas do setor público.

Um dos exemplos mais conhecidos desse tipo de atuação é o do Instituto Avon, que há anos apóia a causa do combate ao câncer de mama entre as mulheres e utiliza seu universo de revendedoras dos produtos para disseminar informações sobre a doença e seus métodos de prevenção, tanto no contato direto com as consumidoras como em espaços reservados ao tema nos 5 milhões a 6 milhões de folhetos de venda distribuídos a cada 19 dias".

Íntegra da coluna publicada na Folha em 26/08: http://www.portaldovoluntario.org.br/site/pagina.php?idclipping=48720&idmenu=45